O Forte dos Reis Magos

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares e Gabriel Maurício Souza de Araújo

Uma herança em nossa História, um patrimônio histórico nacional. O Forte dos Reis Magos tem seus traços apaixonantes e cada detalhe seu é encantador, a sua história é riquíssima. Sua arquitetura medieval, cercada das belezas naturais do encontro entre praia, o rio e o mangue, é um espetáculo que precisa ser apreciado.

O Forte (ou seria fortaleza? Vamos explicar depois essa diferença, seguraê!) tem o formato de uma estrela, e foi construído na barra do rio Potengi em 1598. Sua construção faz parte do processo de colonização portuguesa das terras dos índios potiguares. O fundador do Forte seria Manuel Mascarenhas Homem, que fora capitão-mor de Pernambuco (entre 1596 e 1603), que recebera ordem do governador de Pernambuco, Dom Francisco de Souza, que estava, na prática, só obedecendo as ordens do rei, o Rei Felipe II da Espanha. A esquadra chegou a barra do rio Potengi, vindo de Olinda, em 25 de dezembro de 1597, e doze dias depois se colocou a primeira pedra no que seria a fortaleza dos Reis Magos. O nome se dá porque a construção começa no dia 06 de Janeiro de 1598, dia em que os católicos comemoram o Dia de Reis, em homenagem aos magos/astrólogos Belquior, Baltazar e Gaspar que reverenciaram o nascimento de Jesus Cristo na manjedoura. O projeto é assinado pelo jesuíta Gaspar de Samperes e sua construção demorou um ano, tendo sua inauguração no dia 25 de Dezembro.

Mas por que era necessário construir um forte? Quando Felipe II ordena a ocupação do território potiguar a preocupação do monarca era evitar que os franceses que já haviam estabelecido uma feitoria e um porto no rio Potengi, e estavam aliados aos índios potiguares, tomassem o Rio Grande para si. A construção do forte e a fundação da cidade do Natal foram estrategicamente muito importantes para proteger a costa da colônia americana. Inclusive a construção do forte aqui faz parte de um sistema de fortalezas construídas na costa que visavam a proteção do porto do Recife. O sistema funcionava assim. Cada vez que uma nova fortaleza era construída isso fazia que as esquadras dos inimigos portugueses precisassem se distanciar ainda mais de Olinda e de seus engenhos. Quando a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, por exemplo, é construída; os franceses constroem seu porto no Rio Potengi; quando o Forte dos Reis Magos é levantado, esse porto francês precisa ser deslocado para mais longe ainda e isso atrapalha qualquer futuro ataque que os piratas e corsários desejassem realizar.

A participação do forte em nossa história é bastante intensa. Ele sofreu com os ataques dos holandeses. Sendo que em 1631, ele conseguiu repelir os invasores, porém em 12 de dezembro de 1633, os oitenta soldados aquartelados ao forte não resistiram a uma esquadra com 20 naus e uma infantaria de 1500 homens. A rendição, no entanto, fora contra a vontade do capitão-mor Pero Mendes de Gouveia. Seus subordinados realizaram um motim e se renderam aos holandeses após quatro dias de batalhas.

Após a expulsão holandesa, a partir de 1688, ele também se tornou quartel do Terço Paulista, sobre o comando do mestre-de-campo Domingos Jorge Velho, que viera ao Rio Grande combater os índios, sobretudo os tapuias, que haviam se revoltado contra o domínio português. E em 1865, durante a Guerra do Paraguai, o imperador Dom Pedro II, ordenou uma reforma e ampliação da fortaleza, como parte do esforço de guerra.

Uma curiosidade: em seu meio havia uma capela para os Santos Reis, e em cima, na sua parte alta, existia um depósito onde se guardava armamentos e munições. Essa capela funcionou na fortaleza até 1901, quando ela foi transferida para a povoação de Santos Reis.

No Forte, residiram os capitães-mores da capitania como também estiveram presentes grandes personagens de nossa história como: Maurício de Nassau e Franz Post, o pintor de Castelo keulen. Nas prisões da fortaleza foram prisioneiros o índio Jaguarari, que lutou contra os holandeses, e André de Albuquerque Maranhão, líder do movimento Republicano de 1817 no Rio Grande.

Tombado pelo IPHAN em 1949, ele só foi aberto a visitação pública como monumento histórico após a sua primeira restauração em 1970. Com isso temos uma notícia que nos deixa felizes e tristes, ao mesmo tempo. O Forte dos Reis Magos permanecerá fechado até o final deste ano de 2019, pois irá passar por restaurações. Ficamos felizes porque isto garante a proteção de nosso patrimônio histórico das mazelas do tempo, mas tristes por não poder visitar um dos monumentos mais importantes de nossa história.