O Ofício do Historiador

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

Nesta segunda feira, dia 19 de agosto, comemoramos o Dia do Historiador. A data foi institucionalizada em 2011 apenas (é uma comemoração bem recente) e foi escolhida em homenagem ao natalício do diplomata, jornalista e historiador Joaquim Nabuco. Mas o que faz um historiador?

Para muitos o historiador é um professor de História, alguém que ensina história, mas não é apenas isso, não que essa tarefa não seja extremamente importante, mas o historiador, além de ensinar, é um escritor capaz de pesquisar sobre o passado, usando uma metodologia específica com teorias e conceitos próprios, que necessitam de uma grande erudição e de muita perspicácia. Ele também é responsável por resgatar e preservar a memória e o patrimônio histórico, permitindo que a população conheça ou reviva seu passado, porém a principal função do historiador é questionar as certezas que as sociedades tem sobre si mesmas.

O historiador é um crítico! É e sempre será! Um critico da arte, um crítico da ciência, um crítico da política, um crítico da religião, um crítico da sociedade! Ele, olhando para o passado, é o mais capacitado para reconhecer as mentiras que foram contadas tantas vezes que todos já tomam como verdade. Cabe ao historiador a tarefa ingrata de desnaturalizar aquilo que a comunidade considera como natural., como comum, como aquilo “que sempre foi assim”. A função do historiador é fazer lembrar aquilo que a sociedade quer esquecer, disse o historiador inglês Peter Burke, mesmo se aquilo a desagrade, a ofenda ou a coloque numa posição de vilã. O historiador precisa, eticamente, ser a pessoa quem traz a tona a verdade, independente de quem esta informação atinja, a que interesses ela contrarie. A verdade histórica, apesar de ter inúmeras interpretações, é apenas uma, a do fato.

Além de um crítico, o historiador é também um mago do tempo. Capaz de deslocar-se entre o presente e o passado, contudo sempre buscando no passado respostas sobre o que o presente coloca na sua frente. Marc Bloch, um grande historiador francês, dizia que a incompreensão do presente se dava por ignorância do passado. E isso quer dizer que nenhum historiador estuda, de fato, o passado, os historiadores estudam o presente através do passado! É a partir do presente que eles elencam suas perguntas e buscam no passado as respostas para suas dúvidas e curiosidades. Os historiadores não vivem no passado! É o presente quem injeta em cada um deles a vontade de saber sobre o que aconteceu. Fernand Braudel, também um historiador francês, inclusive dizia que para entender qualquer situação que um homem vive hoje em dia, ele precisa evocar toda a história, porque a mais longínqua Pré-História ainda sobrevive por baixo da nossa pele contemporânea.

Feliz Dia do Historiador!

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