As Tribos do Seridó.
A região da ribeira do Seridó era habitada pelos indígenas cariris e tarairius, divididos em grandes tribos, dos quais podemos citar: Caicós, Pegas e Cariris, e os Canindés, Jenipapos, Sucurus e Paiacús. Todas estas tribos são parte do que eram chamados de tapuias pelos tupis do litoral. .
A tribo que batizou a principal cidade do Seridó chamava-se Caicós. Era uma tribo cariri, como os Pegas (esse nome tem provavelmente origem portuguesa, os índios chamavam a si mesmos de Ariú) e os próprios Kariri. Os cariris são provavelmente o grupo mais numeroso dos indígenas denominados como tapuias (que tinha por volta de 80 tribos somente no sertão e agreste nordestino), porém infelizmente somente quatro de suas línguas foram registradas (todas ao sul do rio São Francisco). Apesar de alguns linguistas considerarem a língua cariri muito mais próxima do tupi; desde 1986, ela é um dos ramos do tronco Macro-Jê.
Estes habitavam uma região que compreendia do Ceará até a Bahia. Eles eram conhecidos pelos tupis como “os silenciosos” (kiri’ri). Os registros mais antigos desta população aparecem na documentação holandesa, em 1639, quando Elias Herckman diz:
Os Tapuyas [são] um povo que habita no interior para o lado do occidente, sobre os montes e em sua vizinhança, em logares que são os limites mais afastados das Capitanias ora ocupadas pelos brancos, assim neerlandês como portugueses. Dividem-se em várias nações. Alguns habitam transversalmente a Pernambuco, são os Carirys, cujo rei se chama Kerioukeiou. Uma outra nação reside um pouco mais longe, é a dos Caririwasys (Pegas?), e o seu rei é Karupotó. Há uma terceira nação, cujos índios se chamam Careryjouws (Carijós?). Conhecemos particularmente a nação dos Tapuyas chamados Tarairyou; Janduwy é o rei de uma parte dela, e Caracará da outra.
Acredita-se que os cariris habitavam o litoral nordestino até a chegada dos tupis, que os expulsaram, forçando-os a viver no sertão. A dispersão destes para as serras à oeste seria, por sua vez, limitada pela presença dos povos da família Jê, como os Tarairiú. Desta maneira, parece possível, a identificação, ainda que embrionária, de uma certa unidade entre as diversas tribos cariri; não apenas por contraste com os seus vizinhos de leste (os tupis) e de oeste (os tarairiú), mas também por uma inquestionável associação a um ambiente natural, especialmente no Seridó, cujas características favoreciam uma concentração, ainda que em caráter sazonal, de grupos diversos nos poucos nichos mais favoráveis como as ribeiras dos rios.
As outras tribos que habitavam o Seridó eram tarairiú. Os Canindés fazem parte deste grupo, junto com os Janduís, Jenipapos, Sucurus e Paiacús. Os Canindés eram os próprios Janduís que por causa de um dos seus chefes, Canindé, passaram a ser chamados por outro nome. Canindé, cujo nome significa “barulhento”, foi um dos líderes indígenas que participou da Guerra dos Bárbaros, um movimento de resistência indígena que impediu o avanço europeu no sertão nordestino (que forçou o rei português a assinar um tratado de paz em 1692).
Como era uma tribo nômade, temos relatos dos Canindés habitando tanto o Rio Grande do Norte, como o Ceará (especialmente entre a ribeira do Jaguaribe e o rio Curuá). Eles possuem o que é chamada de tradição cultural de caça. Tem uma cultura centralizada na caça, valorizando socialmente as habilidades associadas a esta atividade. Seus principais produtos portanto são armadilhas, ferramentas e armas em madeira para facilitar a captura de animais como mocós, pebas e veados, além de aves como o nambus, siriemas e juritis, e lagartos como o tejo.
Já os Jenipapos também eram indígenas Tarairiús. A origem do nome é o fruto jenipapo, do qual se extraía a tintura negra com os quais os nativos pintavam seus corpos. Eles eram descendentes dos Paiacús (como os Canindés eram dos Janduís). Estes grupos são aldeados a partir de 1764 junto com os Canindés, no Ceará, o que forma uma tribo nova, os Jenipapos-Canindés.
Uma tribo que se afirma que foi extinta são os Sucurus, ou Xukurus, que também são indígenas Tarairiús. Eles participaram junto com os Janduís, Icós, Caratius, Paiacús e Amaipirás, da primeira batalha da Guerra dos Bárbaros em 1682. A extinção dos Sucurus no Rio Grande do Norte teria se dado (segundo quem defende esta teoria), principalmente, por causa dos aldeamentos realizados após o fim da guerra. Alguns historiadores, no entanto, entendem que eles podem ter sido absorvidos através da mestiçagem. Isso, ao pé da letra, significaria que eles não foram extintos, mas que ainda fazem parte da população seridoense. O discurso da extinção, atualmente, tem perdido força, já que se entende que uma população indígena, mesmo mestiça, continua sendo indígena.
Os Paiacus também eram conhecidos como Jaracus, Pacaju, Paacu, e também Baiacu e Baiqui. Acredita-se que a referência tem a ver com o peixe baiacu, um peixe venenoso, cujo nome significa “comida de feiticeiro”. Habitavam desde a ribeira do Açu, a chapada do Apodi, até a serra Cirité, no Seridó, região que antes era habitada pelos potiguaras. Eram também indígenas Tarairiús e nunca fizeram “boa amizade” com os colonizadores europeus, sendo arredios tanto ao contato com portugueses como com os holandeses, e também não tinham boas relações com outras tribos, atacando aldeias tupis e tapuias que encontravam em suas andanças nômades. O registro mais antigo de ataques paiacus é de 1666 à Missão de Parangaba, na Capitania do Ceará, às margens do Jaguaribe. A primeira tentativa de aldeamento se deu em 1696, em Aracatú, porém os indígenas acabaram por fugir das missões. Eles tiveram uma participação ativa na Guerra dos Bárbaros, sendo ao fim desta finalmente aldeados (1762) junto com tribos tupis e cariris.
Para Saber Mais:
Carlos Studart Filho. Notas históricas sobre os Baiacu do Ceará.