História da Arte Potiguar: Pré-História - Tradição Agreste
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
A Tradição Agreste é uma das sete tradições rupestres que acontecem no Brasil, e uma das quatro tradições que ocorrem no Nordeste. Ela acontece especialmente na região dos Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Porém, Niéde Guidon afirma que ela se originou no Piauí e Ceará, e está associada a uma indústria lítica rudimentar, se comparada em especial a Tradição Nordeste, que possuí ferramentas líticas bem mais complexas. Seu período de atuação é de 10.500 a 6 mil anos atrás até 3 mil anos atrás.
Sua técnica não preza por um traço firme e nítido, as figuras são disformes e sem um sentido de composição e coesão. A pigmentação mais usada é o vermelho, mas tons de ocre também aparecem. A maioria dos grafismos envolvem animais, em especial tartarugas e jabutis, emas (representadas normalmente de asas abertas), quando seres humanos são representados eles aparecem em tamanhos grandes com braços e pernas abertos. Outra característica marcante são mãos em negativo espalhadas em painéis ou mesmo decoradas com padrões geométricos.
Subtradição Soledade, no Rio Grande do Norte, está associada ao sítio Lajedo da Soledade, em Apodi. O antigo mar raso do período Cretáceo Superior, foi quase destruído por produtores de cal da região, que arrancavam suas rochas calcárias para transforma-las em pó. Protegido hoje, foram encontrados por arqueólogos fósseis de animais pré-históricos como mastodontes, tigres-dente-de-sabre, preguiças gigantes e tatus gigantes.
O lajedo é constituído por uma grande área de rocha calcária que sofreu erosão da água da chuva e com isso formou um pequeno cânion, várias cavernas e fendas onde estão as figuras de araras, papagaios, garças e lagartos, além de formas geométricas. Walner Spencer explica que é provável que o lajedo fosse um lugar em que eram realizadas cerimônias religiosas, possivelmente rituais de iniciação a vida adulta. A maior indicação para isso é a ausência, no entorno da região, de outros sítios com inscrições. A hipótese levantada aqui é que os homens e mulheres daquele tempo viajavam até aquele lugar, de onde moravam, para passar por algum tipo de ritual religioso e depois de completada a experiência retornavam a seus lugares de habitação. As pinturas então representariam animais totêmicos, isto é, animais que protegiam aquelas pessoas, ou suas famílias, no mundo espiritual.