História da Arte Potiguar: Pré-História - Tradição Geométrica

Sítio Pintado - Timbaúba dos Batistas/ RN

Sítio Pintado - Timbaúba dos Batistas/ RN

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

A Tradição Geométrica no Brasil, uma das sete tradições artísticas pré-históricas, é dividida em Subtradição Meridional, que ocupa a região Sul, Sudeste e Centro-oeste (em especial Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso), que possuí estilos como o Litorâneo; e Subtradição Setentrional ou Itacoatiara, que acontece no Nordeste, que possuí estilos como Ingá (que aparece no Rio Grande do Norte e Paraíba). Ela é caracterizada por grafismos geométricos, isto é, desenhos formando apenas formas geométricas, que às vezes eram reforçados com algum tipo de pigmento. “As representações desta Tradição são, em sua maioria, figuras de círculos, linhas, traços, pontilhados, além de outras figuras geométricas, como triângulos, retângulos etc., presentes tanto nas gravuras quanto nas pinturas” (BORGES, 2008).

A Subtradição Meridional é caracterizada por traços paralelos, formando figuras lineares, normalmente localizados em paredões de arenito e basalto, localizados sempre perto a fontes d’água, e que são realizados a partir das técnicas de incisão, usando uma ferramenta para escavar a pedra, polimento ou picoteamento. Já a subtradição Setentrional, que tem como um dos seus principais estilos o Itacoatiara, são realizados a partir das técnicas de polimento e picoteamento, e também estão localizadas sempre próximo ao leito de rios e nas bordas de tanques naturais de água.

É interessante que a Tradição Geométrica costuma conviver com as outras tradições, como a Nordeste e a Agreste, coisa que não acontece com as outras tradições que conhecemos. Os arqueólogos, no entanto, consideram que esta tradição pertence a um outro grupo cultural distinto porque as temáticas e as técnicas utilizadas são distintas das outras tradições. O que impressiona, na opinião de Cláudia Borges, é que num país continental como o Brasil, os mesmos temas e técnicas que aparecem em Santa Catarina aparecem também aqui no Rio Grande do Norte, indicando que é o mesmo grupo que se adaptou a ambientes tão distintos.

Segundo Gabriela Martin, o estilo Ingá se caracteriza pela forma curva e a composição complexa dos grafismos, além de pontos circulares gravados ordenadamente, seguindo um padrão, que dão a impressão de linhas de contagem. Ela também possuí denso preenchimento, todo o espaço dos painéis é ocupado, evitando-se ao máximo espaços vazios. Martin ainda caracteriza em sua pesquisa mais um estilo, que aparece em abrigos e não próximo a água, cujas figuras são realizadas após uma preparação do suporte (a pedra é limpa, polida e tingida de vermelho, antes de receber as gravuras), chamado de Estilo Oeste ou Oriental, com sítios localizados na Depressão Sertaneja.

São inúmeros sítios no Rio Grande do Norte com essas tradições como a Cachoeira dos Fundões, em Carnaúba dos Dantas; o Sítio das Marcas, em Jardim do Seridó; o Sítio de Grossos, em Acari; o Sítio Pintado, Cachos e Pedra Lavrada, em Timbaúba dos Batistas; o Sítio Tanques em Jardim do Seridó e a Gruta da Caridade em Caicó.