A Praça André de Albuquerque
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares e Karla Barbosa
A história da Praça Vermelha é praticamente uma extensão da história da cidade do Natal, afinal, na medida em que a cidade ia se desenvolvendo, a praça também ia crescendo e tomando forma. Ela, obviamente, não começa com o atual nome, era ainda conhecida como Praça da Matriz quando ganha o nome em 1888 de André de Albuquerque. Este nome é devido ao André de Albuquerque Maranhão, que lutou na Revolução Pernambucana de 1817, que teve como principal objetivo a instalação de um sistema republicano e a separação das províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande da colônia portuguesa na América. André era o bisneto de Jerônimo de Albuquerque, que ao lado de Manuel Mascarenhas Homem fundaram a cidade. Inclusive a estrela de bronze, de 1999, localizada na lateral da praça representa o ponto zero da cidade, onde Natal nasceu.
Câmara Cascudo, em seu livro História da Cidade do Natal, fala que a mais antiga descrição sobre a praça é de 1897. Ela tinha, a essa época, 35 casas, com 179 moradores. Suas primeiras construções públicas foram a Igreja Matriz, ainda em 1599, e a Casa de Câmara e Cadeia, somente 1770, junto ao Pelourinho, veja:
“Não é difícil de imaginar o que seria o Natal do começo do século XVIII, com a sua igreja, a cadeia, a forca, o pelourinho, a casa da câmara e as moradas esparsas pelo areal dos bairros, entaipadas umas, outras, e eram o maior número, tecidas de ramos e cobertas com as folhas das diferentes palmeiras indígenas; todas afogadas no mata-pasto embatido e defendidas pelos viçosos urtigões.” (Adaptado de SOUZA MIRANDA, 1999:55)
A praça ganhou monumentos diversos durante sua história. O monumento aos mártires de 1817 foi inaugurado em 12 de junho de 1917, no centanário da revolução. Sua primeira reforma se deu no governo de Gentil Ferreira, que implantou uma nova arborização em fileiras, seguindo inspiração francesa, e instalando um novo calçamento. Em 1942, Joaquim Inácio de Carvalho Filho, continuou as reformas de Gentil Ferreira, instalando novos bancos e um moderno coreto.
Durante o mandato de Sílvio Pedroza, em homenagem ao 350º aniversário da cidade, foi erigido o Monumento à Cidade, de 1946, que recolocou o pelourinho na praça, sob orientação de Câmara Cascudo (que era o assessor de assuntos culturais da prefeitura). O monumento tratava-se do pelourinho rodeado por canhões retirados do Forte dos Reis Magos. O retorno do pelourinho desagradou boa parte da população da cidade. Cartas foram recebidas pelo prefeito e a Câmara Municipal fez uma sessão em desagrado ao monumento. O argumento era que o pelourinho era um símbolo de poder colonial, que era contrário aos princípios republicanos, por isso, não deveria estar de pé no centro da cidade. Câmara Cascudo, em resposta, escreveu uma série de artigos nos jornais da cidade, defendendo o monumento e explicando o simbolismo do pelourinho como instituição administrativa.
A segunda reforma se deu no governo de Djalma Maranhão, em 1963. Djalma Maranhão removeu o Monumento à Cidade, devolvendo os canhões para o Forte e construindo uma concha acústica, uma biblioteca e uma galeria de arte, além de uma fonte luminosa, mas essas obras de Djalma Maranhão foram destruídas por causa da posição do prefeito contra a Ditadura Militar. Argumentaram que as construções do século XX destoava do conjunto colonial da praça; também falava-se que uma biblioteca e uma galeria de arte eram comunistas demais. A concha acústica foi substituída por um novo coreto, inaugurado em 1977.
O curioso é que a maioria das pessoas pensam que a praça é conhecida como “Praça Vermelha’’ apenas atualmente, mas o seu apelido foi dado devido aos acontecimentos de 28 de março de 1817. André de Albuquerque Maranhão, juntamente com alguns combatentes, e apoiados pela Companhia de Linha, fizeram uma entrada solene na cidade, posteriormente reuniu pessoas influentes da época, como famílias tradicionais e autoridades religiosas e constituíram um governo republicano na cidade, separando o Rio Grande do Brasil. Dias depois, se organizou uma contra-revolução e André de Albuquerque foi ferido gravemente, morrendo na prisão, seu corpo, no entanto, foi arrastado e humilhado na praça, antes de seu enterro, na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. É por causa do martírio de Albuquerque na praça que ela ganhou o nome de Praça Vermelha em defesa do herói republicano.