Genealogia dos Bairros: Nossa Senhora de Nazaré
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
A região que tinha como nome Alto da Boa Vista, por causa da bela visão que seus morros dão do rio Potengi até sua foz, começou a ser loteada e vendida na década de 1950. Toda a região pertencia a quatro pessoas: Militão Chaves, Raimundo Chaves, Fernando Pedroza e Norma Nunes Viana, que iniciaram as suas vendas a partir da região em torno da avenida Jerônimo Câmara.
O nome do bairro, que tem criação oficial em 1967, se deveu a um de seus novos moradores: o pernambucano Geraldo Arcanjo, natural de Nazaré da Mata, sugeriu que o novo bairro recebesse o nome da mesma santa que era padroeira de sua cidade natal, nascendo assim Nossa Senhora de Nazaré. Contudo, os limites propostos pelo prefeito Agnelo Alves na lei 1633/67 mudaram um pouco com o tempo. Vejamos o texto da lei:
“fica oficializado o bairro N. Senhora de Nazaré compreendendo os seguintes limites: norte, Bairro Dom Eugênio (que se tornou parte de Dix-Sept Rosado), pela avenida Amintas Barros; Sul, avenida Jerônimo Câmara; Leste, bairro de Lagoa Nova, pela avenida Romualdo Galvão, oeste, margem da via férrea da rede ferroviária nacional” (Lei 1633, 10/5/1967, Agnelo Alves)
Apenas os limites norte e oeste se mantiveram. Ao sul, o bairro avançou sobre a Cidade da Esperança, ganhando como limite a Av. Capitão-Mor Gouveia; e a leste, foi o bairro de Lagoa Nova que avançou sobre Nazaré até a Av. Interventor Mário Câmara, mas depois retrocedeu, em 1993, pela lei 4329, até a Rua dos Potiguares. As mudanças têm a ver com interesses imobiliários, afinal imóveis localizados no bairro de Lagoa Nova são mais valorizados do que aqueles que ficam em Nazaré. O avanço de Nazaré sobre Lagoa Nova, acontecida na administração do prefeito Aldo Tinôco teve como objetivo reduzir os impostos pagos pela população daquela área, entendida pelos governantes como mais carente que outras regiões de Lagoa Nova.
Nazaré é o primeiro bairro da Zona Oeste a receber a iluminação pública, em 1968, um ano após a criação do bairro, por influência de Militão Chaves e Fernando Pedroza. Estes queriam, por causa da presença dos equipamentos urbanos, poder aumentar o preço dos lotes. É nesta lógica que é lançado, em torno da Lagoa de São Conrado, um dos únicos espelhos d’água urbanos da cidade, o Conjunto São Conrado. No entanto, novos investimentos no bairro só vão acontecer a partir da década de 1970, com a construção da Escola Estadual Soldado Luiz Gonzaga (1974), pelo governador Cortez Pereira, que permaneceu sendo a única escola da região por mais de dez anos. O governador José Agripino Maia dá início as obras da Escola Estadual Prof. Judith Bezerra de Melo, em 1986; e o prefeito Agnelo Alves dá início ao projeto das escolas integrais, criando a Escola Municipal Prof. Zuza, em 1988.
Problemas por causa deste aparente abandono não deixam de aparecer. O principal são as enchentes. O conjunto São Conrado, construído as margens da lagoa que lhe nomeia, ocupou o espaço que, na verdade, ainda eram o leito seco do espelho d’água. Quando as chuvas aconteciam, elas naturalmente se depositavam no lago que sempre transbordava para o seu leito seco, que agora estava ocupado por casas.
Uma imensa obra de saneamento da lagoa e sua transformação numa lagoa de captação, fazendo parte do sistema de drenagem da cidade foi realizada durante o governo da prefeita Wilma de Faria, na década de 1990. Os problemas das enchentes foram profundamente reduzidos (aqueles que eram constantes, em qualquer chuva, tornaram-se esparsos, mas ainda acontecem, a última aconteceu em junho de 2014).
Coma resolução do problema, a região tornou-se valorizada. Um exemplo disso foi a fundação da primeira Unidade de Radioterapia e Prevenção do Câncer, que mais tarde se tornaria Liga Norte-riograndense contra o Câncer, sob coordenação do Dr. Ivo Barreto de Medeiros, às margens da Lagoa, em 1990.
O início dos anos 2000 foram marcados, no bairro, pela construção da Basílica dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Beatificados no início do milênio, os beatos só podem ser venerados no âmbito de sua diocese e para isso é necessário erguer um santuário. Como o padre jesuíta, Augustín Juan Calatuyud y Salom, vigário da paróquia de N. Sra. Da Esperança, responsável pelo bairro de Nazaré, havia pedido a doação de um terreno à Prefeitura do Natal para a construção de uma capela, e o prefeito em exercício, Marcílio Carrilho, doou parte do terreno do antigo campo de treinamento do América Futebol Clube, com 5km², fazia sentido construir ali a Basílica dos Mártires.
Em 2001, uma capela simples foi erguida, enquanto se arrecadava os fundos para a construção do futuro santuário. A arrecadação ficou nas mãos do empresário Noel Augusto dos Santos, dono do Hiper Sucatroca. Em 2006 o projeto de autoria do arquiteto Edílson Bezerra Andrade começou a sair do papel sob coordenação dos engenheiros Marcos Santos e Ranieri Trindade Buriti. Em quatro anos, ela foi inaugurada.