Genealogia dos Bairros: Dix-Sept Rosado
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
O bairro de Dix-Sept Rosado era parte das Quintas e teve seu povoamento iniciado a partir da década de 1930. À época, a região que se localizava mais próxima ao Alecrim ganhou o nome de Carrasco. Segundo Itamar de Souza, o nome tem relação com a região ser erma, e de difícil acesso, atravessar as capoeiras e dunas, alguns registros falam em pedras pontiagudas, seria o verdadeiro suplício realizado por carrasco.
Apesar disso, a urbanização parece ter sido bem rápida na região, afinal apenas quinze anos após a chegada dos primeiros habitantes, o jornal A República afirma que está é uma das “zonas mais habitadas da capital”. Por isso, não é de surpreender quando vemos a organização de uma comissão, composta pelos senhores José Joaquim de Andrade, Pedro Ferreira da Silva, Francisco Lourenço de França, Manoel Cândido Filho e Agripino Joaquim de Oliveira, que presentes no gabinete do prefeito José Augusto Varela, pedem autorização para realização de uma feira, às quartas, que ficou chamada de Feira do Carrasco.
A localização era de extrema importância para os feirantes, já que era ali o ponto final de uma das linhas de ônibus da cidade que cortavam o Alecrim e levavam até o Grande Ponto, na Cidade Alta. Das doze linhas de ônibus que existiam em Natal até 1940, três serviam a região suburbana: uma tinha ponto final nas Quintas, a altura do Hospital Giselda Trigueiro; outra levava até Lagoa Seca; e uma até o Carrasco. Este ponto final, em 1951, torna-se estação de trem, primeiramente com nome de Estação do Carrasco, hoje tornou-se Estação Pe. João Maria. Por causa então desse fluxo de pessoas, era interessante montar ali uma feira. São 77 anos com as barracas sendo armadas na Rua dos Paianazes, vendendo víveres, artesanato e até mesmo roupas.
Com a feira, o crescimento do bairro só se amplia. Em 1950, Dom Eugênio Sales cria na região a Escola Ambulatório Matias Moreira, nomeada a partir de um dos mártires de Cunhaú, construído na Rua Prof. Josefa Botelho (a 1,5 km da feira). O pequeno hospital tinha como objetivo atender os pobres da região, e educar seus filhos, e isso impulsionou a ocupação da região a sudeste da feira, que passou a ficar conhecida como Vila Dom Eugênio.
No entanto, em 1951, o governador Dix-Sept Rosado foi vítima de um acidente aéreo, e em sua homenagem, o vereador Jessé Freire apresentou um projeto de lei que rebatizava toda a região, criando o bairro Dix-Sept Rosado que iria agora até a av. Capitão-mor Gouveia, ao sul, e av. São José, ao leste, englobando o Carrasco, a Vila D. Eugênio, o chamado Alto da Boa Vista e toda a região de alagados da lagoa de São Conrado).
Em 1957, é fundada a Clínica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, que foi organizada pelo psiquiatra Severino Lopes, e foi patrocinada pelos empresários Militão Chaves e Bonaerges Januário Soares de Araújo. Este hospital tinha como objetivo cuidar de crianças portadoras de “deficiências mentais”. Ele fazia parte de um novo movimento que via as chamadas “deficiências” não como uma doença, mas como uma característica destes indivíduos.
A clínica pedagógica se torna a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), que nascera no Rio de Janeiro em 1954, e chegara ao estado em 1959. O principal objetivo da APAE era a mesma ideia defendida por Severino Lopes, promover a atenção integral a pessoa com deficiência, para que ela possa se desenvolver, e não aprisioná-las em manicômios. Severino Lopes foi, sem dúvida, um visionário, mas, com certeza, inspirado no trabalho de Dom Eugênio com sua escola ambulatório.
É também devotado a essa população pobre que habitava a região que o prefeito Djalma Maranhão instalou no cruzamento da Av. Antônio Basílio e a Interventor Mário Câmara, em 1961, os galpões do projeto De Pé No Chão Também se Aprende a Ler. Este projeto previa erradicar o analfabetismo na cidade usando o método que havia sido criado por Paulo Freire. Neste método a aprendizagem se dá a partir das vivências do aluno. Se alguém trabalha com agricultura, por exemplo, as palavras usadas para alfabetizá-la serão retiradas deste universo: enxada, facão, arado, etc. Em 1966, o prefeito Agnelo Alves, substituiu os galpões que eram apenas cobertos com palhas de coqueiro, sem paredes, com chão de barro batido, por um prédio de alvenaria que se tornou a Escola Municipal Mário Lira.
Em 1967, na região entre o Alto da Boa Vista e a Baixa da Égua, mais tarde rebatizado de Bom Pastor, temos a construção do Parque de Vaquejada 13 de Maio (que fica na atual Rua Parque 13 de Maio). O parque foi uma criação da Ordem dos Vaqueiros, composta pelos senhores Severino Elias de Farias, Chico Pequeno, Ademar Luiz Gomes, João Franco Ribeiro, Francisco Assunção de Macedo, Francisco Gonçalves, Don João e Pedro Miguel, e tinha como objetivo estimular a prática do esporte na cidade.
Ele continha uma pista de corrida de 130 metros, coberta de serragem de madeira, pistas lateiras de retorno, dois currais, estacionamento, palanques e arquibancadas para o público. Funcionava aos domingos, das 9 às 17h. Diz Rodrigo Martins que o nome do parque foi por causa do aniversário de Severino Elias de Farias e em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, de quem ele era devoto.
As corridas eram grandiosas e davam prêmios incomparáveis. Em 1974, a dupla Codô e Clízio, representando Cerro-Corá, ganharam um carro 0km, uma Brasília. A competição também atraía um público imenso de espectadores que mudava a aparência do bairro suburbano. Foi no parque também que o empresário Otoni Rodrigues inaugurou o primeiro carro de som para realizar propagandas. Os primeiros anúncios foram da cachaça Pitu.
Em 1975, o parque foi desapropriado pelo governo estadual, Cortez Pereira tornou-o de utilidade pública. Diz: “os imóveis a que se refere este decreto destinam-se à construção de um parque com a finalidade de estimular e propiciar a prática de vaquejadas, como esporte e atividade turística”. Foi contratado o arquiteto Ayrton Vasconcelos, que projetou um “moderno parque de vaquejadas”, com capacidade para 10 mil expectadores.
A ideia era construir um estádio tal como o Machadão, que também estava sendo construído no mesmo período. O projeto chegou a ser iniciado, com a construção de arquibancadas, mas, com a morte de um dos operários, as obras foram paralisadas e com a saída do governador, o projeto não foi levado adiante. No entanto, a inauguração destas arquibancadas foi feita com pompas: um show de Luiz Gonzaga.
Em 1990, o parque teve sua última corrida. Os organizadores diziam que o crescimento desordenado do bairro impossibilitava a continuidade das corridas já que as ruas e casas impediam a chegada dos rebanhos, mesmo quando trazidos de caminhão. Na década seguinte o terreno do antigo parque, agora abandonado e em ruinas, foi loteado e vendido.
Tal como em outros bairros da cidade, a década de 1970 também é um período de grande expansão dos equipamentos urbanos em Dix-Sept Rosado com a construção das escolas Prof. Acrísio Freire, em 1972; Prof. Luiz Soares, 1978; Prof. Francisco Ivo Cavalcanti e Profa. Lia Campos, 1980.