Alecrim: As Avenidas Numeradas
Por Prof. Ítalo Douglas dos Santos
Semelhante à denominação das avenidas norte-americanas, o Alecrim também apresenta um sistema de numeração para as suas ruas, devido a essa semelhança houve uma confusão em atribuir esse planejamento a vinda dos estadunidenses a Natal durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, esse sistema já existia há muito tempo no bairro. Inclusive algumas dessas avenidas foram construídas antes da fundação do próprio bairro em 1911, como é o caso da rua Amaro Barreto que fora criada dois anos antes em 1909, e relatos da numeração das avenidas são ainda mais antigos.
O jornal A República, em 18 de maio de 1907, relata o seguinte ocorrido: “Manoel Alexandrino Cândido, requerendo aforamento de um terreno na Cidade Alta a estrada que liga ao Lazareto a avenida 8”. Isso atesta que 50 anos antes da vinda dos norte-americanos para a capital potiguar já existiam avenidas, que mais tarde fariam parte do bairro do Alecrim, conhecidas não por nomes e sim por números.
Esse sistema de numeração acompanha a iniciativa que começou no início do século XX quando o município de Natal, com o intuito de modernizar e se distanciar da aparência colonial que a cidade ainda mantinha, coordenou diversos planos urbanísticos. Ao que tudo indica o primeiro deles foi possivelmente o responsável por iniciar a tradição de numerar as ruas da cidade.
No ano de 1903 durante o governo do prefeito (na época ainda com o termo Presidente da Intendência) Joaquim Manoel Teixeira, foi iniciado o “Master Plan” conhecido como Plano Polidrelli, conduzido pelo arquiteto e agrimensor italiano Antonio Polidrelli. O plano constituiu-se na construção de oito avenidas paralelas e quatorze ruas formando uma malha em forma de xadrez compostas pelos bairros da época Cidade Alta, Ribeira e o recém fundado, Cidade Nova (atualmente corresponde aos bairros de Petrópolis e Tirol) que fora construído também como parte do Plano, de modo a aumentar a expansão da cidade.
Essas novas construções seriam o início da numeração das ruas e avenidas no Alecrim, contudo, ainda há incertezas se Polidrelli de fato foi o primeiro quem iniciou com esse sistema, pois, apesar de já existirem ruas que passavam pela região do que viria ser o bairro, elas ainda eram muito escassas.
Sendo o Plano Polidrelli responsável ou não por dar ao Alecrim essa característica que o diferencia dos outros bairros de Natal, é notável que esse costume não se perdeu com o tempo, tanto as pessoas mais velhas como os mais novos conhecem e se localizam no bairro através dos números que as ruas levam. Todavia elas possuem um nome oficial, que foi empregado ainda na primeira metade do século XX quando o prefeito Omar O’Grady pediu a membros do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) uma lista de nomes de figuras que foram importantes para a história do Rio Grande do Norte. Com essa lista, formada pelos presidentes de província, juntamente de uma gama de nomes de povos indígenas que habitaram a região potiguar todas às vinte-e-duas ruas do Alecrim passaram a ter além de um número um nome específico.
Porém, o Alecrim nem sempre teve este mesmo tamanho. Quando as ruas foram numeradas os bairros de Quintas, Dix-Sept Rosado, Nossa Senhora de Nazaré e Lagoa Nova também faziam parte do Alecrim, e por isso, estas avenidas também tinham seus nomes numerados.
Para Saber Mais:
Adria Carla da Silva. A construção e estruturação do território comercial do bairro do Alecrim (Natal/RN)
Josué Alencar Bezerra. A reafirmação de um bairro: um estudo geo-histórico do bairro do Alecrim.