Av. Câmara Cascudo, antiga Junqueira Aires.
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Imaginem Natal no tempo da colônia. Ela tinha pouco mais que uma dezena de casas de taipa construídas ao redor a capela que servia como Igreja Matriz. Em direção ao baldo descia a Rua de Beber Água, em que os escravos traziam para cima das dunas a água que buscavam na represa do Baldo. Para o outro lado, em direção ao Rio Potengi tínhamos uma grande duna que separava claramente a Cidade Alta, acima, obviamente, e a Ribeira, lá em baixo, depois do pântano que se formava onde é a atual praça Augusto Severo. Essa ladeira, que hoje é a avenida Câmara Cascudo, era intransponível. Cascudo fala assim dela em seu História da Cidade do Natal: “a única via de acesso entre a Cidade Alta e a Ribeira era a ladeira íngreme, escorregando sabão depois das chuvas. Nos papéis velhos a frase comum é aterro. Tão íngreme que dividiu a cidade. Os documentos falam de duas povoações, a Ribeira e Natal, tal a dificuldade de transitar entre uma e outra.
Os nomes foram mudando com o tempo Aterro, Ladeira, Subida da Ladeira, Rua da Cruz, porque ela começava logo após o cruzeiro norte que determinava o fim da povoação original. De 1870 em diante, somente, que se povoou a ladeira, principalmente porque em 1873 se constrói ali a Companhia de Aprendizes Marinheiros, prédio hoje onde funciona a Capitania das Artes. Essa avenida fora a única até 1935 (quando a Avenida Rio Branco foi prolongada), fazendo a ligação entre os bairros da Cidade Alta e Ribeira, dá para imaginar a importância dela né?
Permaneceu no barro, mas seu aclive foi rebaixado inúmeras vezes, inclusive usando sua areia para aterrar o pântano que formaria a praça Augusto Severo ainda em 1904, na administração do governador Tavares de Lyra. Recebeu logo depois os bondes, por volta de 1911, primeiramente puxados por burros; mas depois elétricos, que facilitavam o trânsito dos habitantes da parte alta para a nova praça recém-construída. É do mesmo período a construção da balaustrada e a arborização com figueiras que ainda estão lá magnificamente. Ela só foi finalmente calçada na administração do prefeito Omar O’Grady, durante os anos de 1924 e 1930.