Natal das Antigas

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História da Arte Potiguar: Arquitetura Colonial

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação (Natal-RN)

Prof. Ítalo Douglas dos Santos Silva

Prof. Dr. Lenin Campos Soares

Entende-se como Arte Colonial brasileira tudo aquilo que foi construído entre 1500 até o surgimento e emprego do estilo Barroco. Contudo pode haver uma confusão no que se refere a distiguir o que seria Barroco ou Colonial. Diversas obras que foram construídas antes do advento do barroco na colônia, no fim do século XVII, são colocadas como pertencentes a chamada Arte Colonial, ocorrendo muitas vezes também que produções artísticas realizadas no período barroco sejam consideradas também como coloniais. Isso se dá pela proximidade temporal que ambos os estilos dividem, afinal a Arte Barroca se fez presente em grande parte do período colonial. Um outro motivo para causar confusão é que essas construções ao longo do tempo foram passando por reformas que não preservavam completamente a estética original e adicionavam elementos estilísticos posteriores a fundação inicial da obra, isto é, elas tinham sido construídas como colonial, mas foram acrescidos elementos barrocos que modificaram sua forma original.

Para poder distinguir um do outro é necessário entender o que constitui a Arte Colonial; o que pode não ser algo tão simples, pois diversos estilos artísticos e arquitetônicos passaram pelas terras coloniais como o caso do, rococó, do maneirismo e do próprio barroco. Contudo, suas características gerais são: uma construção simples, com pouco ou nenhum adorno; o uso predominante de traços retos e a utilização de materiais simples e até precários como taipa, pedras e óleo de baleia.

Planta do Forte dos Reis Magos

1- Baluarte, 2- Cortina , 3- Adarve, 4- Caserna, 5- Capela/Paiol, 6 -Bastião, 7- Canhões

Em terras potiguares, a mais antiga construção neste estilo é o Forte dos Reis Magos, construído em 06 de janeiro de 1598, no dia de Reis por isso o nome, em pau a pique, uma técnica de construção antiga que utiliza madeira e barro e seguindo o desenho e orientações do jesuíta e arquiteto Gaspar de Samperes, que projetou a planta em forma de estrela de cinco pontas, permitindo que os soldados por detrás de suas muralhas tivessem mais de um ângulo de visão. O forte foi erguido sob ordens da coroa portuguesa e espanhola (unidas na época) e serviu para a proteção, do litoral e da capitania do Rio Grande, contra as invasões francesas e holandesas. Porém só no ano de 1614, Francisco Farias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil fez reformas que deram ao forte a aparência que conhecemos hoje. O forte como uma obra colonial ainda preserva as características da época e do estilo, como a sua construção retilínea, sua simplicidade em relação a decoração e a utilização das pedras do próprio recife, retirados da própria praia do forte, e rejuntados com óleo extraído das baleias.

Fachada da Igreja Matriz (Natal-RN)

1- Torre Sineira, 2- Cruzeiro, 3 - Frontão, 4 - Rosácea, 5 - Cornija;¨6 - Pináculo, 7 - Nave lateral.

Outro marco das construções coloniais também presente na capital potiguar é a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação ou também conhecida atualmente como Catedral Velha, localizada na Praça André de Albuquerque, no bairro da Cidade Alta, sendo a primeira e durante muitos anos a única igreja do Rio Grande do Norte. A data da fundação exata é desconhecida, mas tudo indica que a construção se iniciou logo após a fundação da cidade, ainda nos primeiros anos do século XVII. Como a maioria das igrejas da época a sua construção se deu por partes, no início era apenas uma capela primitiva, com paredes de barro e, aos poucos, ainda no século XVII, ela foi ganhando mais espaços como as capelas laterais, e uma nova nave.

Contudo tal qual o Forte dos Reis Magos, a Igreja Matriz também foi tomada pelos holandeses durante sua invasão e ocupação no nordeste, o que resultou na transformação em 1633 da capela em um templo calvinista permanecendo assim até 1654, sendo destruída pelos holandeses quando da sua expulsão das terras potiguares. A reconstrução da igreja se deu ainda com o emprego de materiais muito simples como o barro e a taipa o que fez necessárias novas reformas em pouco tempo. Os esforços para a reestruturação da igreja começaram em 1672 e a obra só ficou pronta em 1694, agora em pedra e alvenaria. Essa não foi a primeira e nem a última reforma da igreja e a cada novo reparo e ampliação novos elementos eram implantados levando cada vez mais ao distanciamento da sua estética colonial.

Assim foi até o início dos anos 1990 quando a igreja estava novamente bastante deteriorada, foi visto a necessidade de uma restauração e retomada dos elementos originais do templo. E em 1994 esse processo de restauração foi iniciado, envolvendo arquitetos e arqueólogos, especialistas em restauração, liderados por Paulo Tadeu de Souza Albuquerque, com o objetivo de retomar a aparência original de dentro e de fora da igreja. As obras só foram finalizadas em 1995 e atualmente é possível visualizar as características coloniais como o seu aspecto mais limpo sem adornos e seus traços mais retos, até os esquemas de cores originais, branco e amarelo, foram restauradas.

Uma terceira construção que também entra neste período não está localizada em Natal. É a Capela de Nossa Senhora das Candeias, em Canguaretama, no Engenho de Cunhaú. Tal qual a Igreja Matriz não temos a data exata da construção, mas ela estava funcionando em 1614. Ela foi construída com tijolos cozidos, isto é, de alvenaria, com uma decoração simples de batentes e cornijas de pedra lavada. Uma característica interessante da capela é que em suas paredes laterais haviam seteiras, que são espaços abertos para que arqueiros posicionassem suas flechas para atacarem de dentro do templo. Isto indica, que as construções coloniais presavam pelo segurança, herdando essa característica do estilo românico que foi popular, na Idade Média, na construção dos castelos.

Na década de 1930, a igreja já estava em ruínas, restava apenas as paredes da nave, da capela-mor, parte da sacristia, o arco do cruzeiro em pedra de cantaria, além de escombros da fachada. Em 1964 as ruínas foram classificadas pelo IPHAN e passaram a fazer parte do patrimônio histórico nacional, porém em 1986 a capela foi reconstruída num projeto que causou grande polêmica. É certo levantar um prédio antigo de novo? Quando eles estão em ruínas o certo é manter em ruínas ou devemos reconstruir?

Para Saber Mais:

Alamanda Araújo. Estudo de alvenaria das edificações históricas.

Paulo Roberto Teixeira. Forte dos Reis Magos.

Paulo Tadeu Albuquerque. Catedral Velha: Uma experiência em restauração - Natal/RN

Raphael Fabrino. Guia de Identificação de Arte Sacra