Alecrim: Teatro Sandoval Wanderley
Por Prof. Ítalo Douglas dos Santos
Foto: Blog do Jadson (Disponível em https://blogdojadson.com.br/ler.php?idnot=4641)
Localizado na Avenida Presidente Bandeira, 530, no bairro do Alecrim, o Teatro Municipal Sandoval Wanderley já foi um importante espaço das artes cênicas em Natal. Fundado em 1959, sendo o segundo teatro da cidade, o Sandoval Wanderley assumiu um papel de relevância no acesso à cultura da população mais pobre da cidade, pois os ingressos de suas peças e apresentações tinham um valor mais acessível que o Teatro Alberto Maranhão. Esse fato levou o teatro até então nomeado apenas de Teatro Municipal, a ser comumente chamado de Teatrinho do Povo. Seu nome em homenagem ao ator assuense Sandoval Wanderley só foi atribuído na década de 1970. Após uma reforma terminada em 1973, o então prefeito Jorge Ivan Cascudo Rodrigues e a secretária municipal de Educação e Cultura, Olinda Gomes da Costa, decidiram homenagear o ator.
Café Filho de terno claro, e Sandoval Wanderley de terno escuro (Disponível em https://assunapontadalingua.blogspot.com/2014/06/historia_26.html?m=1)
Importante figura da dramaturgia e da história do Rio Grande do Norte, Sandoval Carlos Wanderley nasceu em Açu, interior do RN, em 27/09/1893 e se dedicou a diversas áreas, foi poeta, político, jornalista e dramaturgo. Como jornalista fundou os jornais O combate e A Folha do povo. No campo da política exerceu dois mandatos, um de deputado estadual de 1934 a 1937, e como vereador de Natal de 1948 a 1951. No teatro onde foi mais atuante fundou dois grupos, o Conjunto Teatral Potiguar (1941) e o Teatro de Amadores de Natal (1951), escreveu, dirigiu e atuou em diversas peças, se tornando um dos nomes de maior expressão das artes cênicas do estado.
Palco do teatro em 2009, ano que foi fechado (Foto: Carta Potiguar, disponível em https://www.cartapotiguar.com.br/2017/11/30/artistas-debatem-o-teatro-sandoval-wanderley-e-alecrim-neste-domingo-03/)
O teatro, que é um teatro de arena, com o público que fica sentado ao redor dos atores em cena, viveu o seu auge na década de 1970-80, mas está fechado desde 2009, e suas instalações estão se degradando. Mas não é de hoje que ele vem sofrendo com o descaso do poder público. No ano de 1984 o prédio passou por uma reforma que resultou no desagrado dos artistas locais, poucas mudanças efetivas na estrutura do imóvel e a construção desnecessária de uma nova sala para o diretor. Quatro anos após a reforma o teatro já estava em um nível de deterioração em que toda a sua estrutura precisou ser demolida para evitar um desmoronamento, tendo sua reconstrução finalizada no início da década de 1990.
Foto Brechando (Disponível em https://brechando.com/2017/04/oficial-teatro-sandoval-wanderley-sera-fechado-para-construir-shopping/)
Mais recentemente, após 8 anos fechado, o teatro voltou ao centro das discussões. Em maio de 2017, durante o governo do prefeito Carlos Eduardo, a Secretaria de Cultura (SECULT) confirmou as negociações para uma possível parceria com a iniciativa privada visando a reestruturação do bairro do Alecrim, inclusive na área em que está situado o Sandoval Wanderley. A proposta para o teatro seria a sua derrubada para a construção de um centro comercial.
Em nota a Prefeitura disse:
Entre as contrapartidas, está a construção e manutenção de um teatro de características semelhantes ao do Sandoval Wanderley em um terreno indicado pela Prefeitura do Natal, que optou pela escolha do bairro da Ribeira, por sua vocação cultural. (maio/2017)
Ainda em 2017, um mês após a confirmação da SECULT sobre o possível futuro do teatro, foi proposto, pelo vereador Fernando Lucena, um projeto de lei n°117/2017 que declarava o Sandoval Wanderley como patrimônio imaterial. Em primeira votação ele teve parecer favorável na Câmara Municipal. Com o tombamento, visava-se preservar a história do teatro e a não derrubada do seu prédio.
"Diante de todo o impacto cultural e social que representa, busca-se com esta propositura reconhecer e proteger esse imenso patrimônio da cultura natalense, declarando-o Patrimônio Cultural Imaterial. O Rio Grande do Norte de tantas tradições precisa de mais espaços para que seus talentos possam se desenvolver. Trata-se, portanto, de um presente para toda classe artística potiguar que merece ser valorizada", defendeu o vereador Fernando Lucena.
Todavia em setembro do mesmo ano, o Plenário da Câmara Municipal vetou integralmente o projeto de lei, assim impedindo que o teatro se tornasse parte do patrimônio imaterial da cidade, facilitando a sua concessão do terreno à iniciativa privada.
Contudo com a chegada do prefeito Álvaro Dias à prefeitura da cidade em 2018 a ideia do governo anterior da derrubada do teatro foi deixada de lado. A proposta do novo gabinete é a restauração do prédio, como explica a notícia veiculada na Tribuna do Norte, em maio de 2019. A última novidade foi em setembro de 2020, notícia divulgada pela Tribuna do Norte, quando foi criado, com membros da Funcarte, Secretaria Municipal do Governo e de outas secretarias, um comitê responsável por acompanhar o plano da restruturação.
Apesar de a reforma ainda estar longe de ser concluída, o futuro do teatro parece ser mais animador do que era alguns anos atrás. Talvez em um futuro não muito distante o Teatrinho do Povo abra novamente suas portas ao povo.
Para Saber Mais:
Ângela Melo. Um século de contribuições para a história do teatro na cidade do Natal: 1840-1940.
Clotilde Tavares. Sandoval Wanderley e seu teatro.