Natal das Antigas

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Alecrim: Os Cinemas

Por Profa. Ruth Steff Correia e Prof. Dr. Lenin Campos Soares




O cinema teve sua estreia em 28 de dezembro de 1895, por meio do trabalho dos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière. Já no Brasil tivemos a estreia do cinema no Rio de Janeiro em 08 de julho de 1896, um ano depois, graças a curiosidade da família real. Porém, a chegada no Rio Grande do Norte se deu já no século XX. O primeiro cinema na cidade de Natal em 1911, liderado por uma rede cinema com matriz no Rio de Janeiro, como já contamos aqui.

O cinema, portanto, é, no Rio Grande do Norte, símbolo de modernidade. E como o bairro do Alecrim teve um papel importante no processo de urbanização e modernização da cidade, inclusive no meio cultural, não é de surpreender que contamos com a maior parte dos cinemas da cidade, durante o século XX, no bairro. Lembrando que o Alecrim não era apenas um bairro comercial e operário, mas onde muitas pessoas vinham (inclusive de outras cidades) para momentos de interação social e lazer.


Alecrim Cinema

O primeiro cinema do bairro foi inaugurado em 1918, na rua Mário Negócio. Ao mesmo tempo que ele, existia na Ribeira o Cine Polytheama e o Royal Cinema, porém acreditamos que eles não competiam diretamente, já que os cinemas localizados na Ribeira estavam direcionados a elite da cidade, enquanto o Alecrim era um cinema popular. Porém o Polythema e o Royal monopolizavam a exibição dos melhores filmes que chegavam da Europa e Estados Unidos. Porém, segundo João da Mata Costa, em uma crônica publicada na Tribuna do Norte, foram exibidos no Alecrim O Triunfo Dela, um filme mudo de 1915, com a atriz francesa Gaby Deslys (este filme hoje é considerado perdido) e também A Moralidade de Marcus, que trouxe para as telas do cinema mudo uma peça que fazia sucesso na Broadway, com sua atriz principal, Marie Doro.

Marie Doro, em 1917.

Cine José Augusto

Inaugurado a 07 de outubro de 1923 (no mesmo ano, na Av. Rio Branco, também se inaugurou o Cine Rio Branco).

 

Cine Theatro São Pedro

Cine Theatro São Pedro

O Cine São Pedro foi inaugurado na Rua Amaro Barreto em 25 de dezembro de 1930, de início com capacidade para 700 pessoas. Sua inauguração se deu com o filme mudo Escravo do Vício. Em 1931, foi exibindo o primeiro filme falado e colorido, General Crack. Este era um melodrama musical filmado em 1929. O filme se passava na Áustria do século XVIII em que o personagem titulo era um cigano que se apaixona pela irmã do imperador. Com um novo sistema chamado de Vitafone, o São Pedro aposentou as orquestras que tocavam por trás da tela, acompanhando os filmes, agora o som “vinha da própria fita”.

No cinema não se exibiam somente filmes, jornais eram exibidos e também se projetavam na tela seriados como O Cobra, O Homem Aranha, O Falcão do Deserto.

O São Pedro também foi local para chocar a puritana sociedade natalense. Foi lá que foi exibido o primeiro filme com cenas de nus na cidade, em 1936. O filme era Êxtase, um drama tcheco filmado em 1933, estrelado pela austríaca Hedy Lamarr. O filme é sobre uma jovem mulher que se casa com um homem mais velho e muito rico.

Imagem disponível em https://curiozzzo.com/o-primeiro-filme-colorido-e-falado-exibido-em-natal/

De propriedade de Lauro Medeiros, um dos coronéis do algodão, o Cine Theatro era considerada a maior e mais confortável casa de espetáculo da cidade. Dividido por uma grade, ele tinha uma primeira classe com poltronas, e uma segunda classe, próxima a tela, com cadeiras de madeira. Ele tinha sessões normais as 19:30, as “soirées elegantes” as 20h e vesperais as 17:30. Aos domingos, as matinês se concentravam na exibição de filmes e das séries para crianças. Como teatro, o cinema também abrigava apresentações e shows, como podemos registrar a presença do cantor Roberto Carlos, em 1963.

                                          

Cinema São Luiz

Cinema São Luiz

 Inaugurado em 26 de outubro de 1946 na rua Presidente Bandeira (Avenida 02), era conhecido como “Palacio Encantado”. Tinha como proprietário a firma Lopes Varela & Cia. E sua estrutura foi construída de forma adequada para sustentar as necessidades de um cinema com conforto e requinte, com disponibilidade de mil lugares, tinha separados a primeira classe, contendo banheiros e camarins, e a segunda classe. O primeiro filme exibido foi “Amar Foi Minha Ruína”, do diretor John M.Stahl, filmado em 1945. O filme americano conta a história de um triângulo amoroso que termina em tragédia.

O espaço foi vendido por 500 cruzeiros para o Banco do Brasil (banco presente nos dias de hoje) pelo seu proprietário, o senador Luiz de Barros, e em 07 de março de 1974 teve sua última exibição com o filme ‘A morte em minhas mãos”, um filme chinês, dublado em inglês. Um trecho do filme está disponível no Youtube.

     

Cine Alecrim

Cartaz de Perseguidos.

De propriedade da empresa Cinema Popular LTDA, de Cristovão Bezerra, foi inaugurado em 13 de setembro de 1947, na Praça Gentil Ferreira. Com exibição de inauguração o filme Perseguidos, estrelado por Errol Flynn e Helmute Dantine, para autoridades e a imprensa local. Possuía sessões as 15:30, 18:00 e 20:00 e com capacidade para 400 lugares e com preços populares.

O Cine Alecrim também funcionou como teatro, recebendo apresentações de músicos, shows de mágica e recitais poéticos (vale inclusive registrar a apresentação do “poeta vaqueiro”, o potiguar Zé Praxédi, que havia gravado em 1966 um LP declamando as suas poesias).

 

 

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Cinema Paroquial/ Cine Olde

 

Com sua primeira exibição do filme Flores do Pó em 27 de junho de 1947, Cine Paroquial encontrava se na Rua Fonseca e Silva, no Alecrim, nos fundos da Igreja de São Pedro. Posteriormente, na década de 1970 foi transformado o Cine Olde, e depois, em 1980, no Teatro Infantil Jesiel Figueiredo . Tempos depois, na década de 1990, o teatro foi demolido e construído o Salão Paroquial da Igreja de São Pedro.

 

Cine São Sebastião

O Cine São Sebastião ficava situado na Avenida 9, a Coronel Estevam, em frente a igreja de mesmo nome, e foi inaugurado no dia 06 de dezembro de 1947, onde exibia filmes como “Piratas e Rancheiros”. Ele era o cinema dos faroestes com sua tela panorâmica, e em período de Semana Santa o filme Paixão de Cristo, sua maior bilheteria.

Relatos de dificuldades como a falta de energia durante as sessões (era extremamente comum, exigindo paciência do público) e momentos de violência em que o proprietário José Alexandre Ferreira sofreu agressões por parte dos frequentares fazem parte da história do São Sebastião. Ele, no entanto, conseguiu manter-se de pé até a década de 70. 



Para Saber Mais:

Anchieta Fernandes. Écran Natalense – Capítulos da História do Cinema em Natal

Anchieta Fernandes. O pioneirismo do cinema no bairro do Alecrim.

João da Mata Costa. Alecrim: um século do mais querido bairro de Natal.

João da Mata Costa. O Alecrim e o cinema.

Lady Dayana Silva de Oliveira. Cinema itinerante no Rio Grande do Norte: aspectos da recepção.

Valter Abdon. José Praxedes, o poeta vaqueiro.