O Fracasso de João de Barros
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
João de Barros foi um dos donos da capitania do Rio Grande, juntamente a Aires da Cunha. Ele era historiador real, conhecido como o Tito Lívio português (em referencia ao historiador que viveu durante o período romano). Ele também foi um dos primeiros a estabelecer normas para a língua portuguesa, escrevendo sua segunda gramática. O interessante é que João de Barros nascera bastardo, isto é, fora do casamento do nobre Lopo de Barros, em 1496. Ele, apesar disso, recebeu uma educação clássica financiada pelo seu pai, frequentando depois a corte do rei D. Manuel I. Ele servia na corte como guarda roupas do infante, João. Foi em 1522, com somente 26 anos, que ele publicou seu primeiro livro: a “Crônica do imperador Clarimundo, donde os Reis de Portugal descendem”. Era um romance de cavalaria dedicado a elogiar Dom Manuel e o atual rei, Dom João III, que assumira o trono um ano antes.
Quando D. João III assumiu o trono, ele concedeu a João de Barros o cargo de capitão na fortaleza de São Jorge da Mina, em Gana, na África. Em 1525 torna-se tesoureiro da Casa da Índia, o departamento real responsável pela administração dos territórios além-mar. Em 1532, ele tornara-se feitor, isto é, o responsável por todos os territórios portugueses fora da Europa. Ele foi considerado pelos historiadores como um administrador bom e desinteressado, chama atenção como ele não enriqueceu demasiadamente no período, como aconteceram com outros administradores, o que indica que ele não compartilhava dos sistemas de corrupção que já estavam instalados (esse problema é antigo).
Quando ele e Aires da Cunha receberam as capitanias do Rio Grande e do Maranhão, eles resolveram agir conjuntamente para sua exploração e ele ficara o responsável pela arrecadação do dinheiro para financiar a empresa. Na primeira tentativa, o prejuízo e a morte de seu sócio, já abalaram profundamente João de Barros, mas ele precisava tentar mais uma vez.
Em 1555, eles partiram novamente, agora sob comando dos filhos do historiador, Jerônimo e João. Eles aportaram nas margens no rio que era chamado de Baquipe pelos índios, conhecido hoje como Ceará-Mirim. Aportaram e tentaram fundar uma cidade. Contudo foram atacados pelos índios potiguares, que aliados dos franceses, mataram muitos dos soldados portugueses que foram pegos de surpresa. Foi uma batalha de dias que terminou com a fuga dos portugueses. Fugiram, levando alguns náufragos que estavam vivendo entre os índios esperando o dia de serem devorados.
O prejuízo foi sem precedentes. Era preciso pagar o salário dos homens, os empréstimos contraídos que seriam pagos com o lucro que não veio. Mas os credores não queriam saber disso. A fortuna de João de Barros foi consumida. E o que sobrou foi pago para o retorno seguro dos seus filhos a Portugal. Morreu pobre e só não estava endividado porque el-Rey D. Sebastião perdoou a dívida de 600 mil réis que contraiu para armar aquele pequeno exército.
Para Saber Mais:
Luiz Eduardo Suassuna e Marlene Mariz. História do Rio Grande do Norte Colonial (1597/1822)
Tavares de Lira. História do Rio Grande do Norte.