Natal das Antigas

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Maria Boa, a empresária

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

Maria Oliveira Barros, nascida em Remígio, cidade próxima a Campina Grande, em 1920. Na grande cidade, a jovem menina ajudava seu pai vendendo seus produtos na feira. Conta-se que desse período ganhou o apelido de Boa. Dizem que por ser muito gentil com os clientes, outros pelos seus belos atributos físicos. O apelido ganhou ódio eterno de seu pai, mas atraiu os olhares dos jovens campinenses. Os rapazes passavam na barraca apenas para vê-la e ela acabou engraçando-se com um dos rapazes. Este a seduziu e tomou-lhe a virgindade. O pai de Maria exigiu o casamento em reparação. O moço, no entanto, recusou-se. Preferia casar com menina de melhor família. Maria se viu abandonada pelo namorado. E o pai a expulsou de casa.

Foi então morar em João Pessoa, por volta de 1935, onde trabalhou em uma tipografia, servindo de secretária. Mas não demorou muito para ganhar a vida como prostituta. A forma como ela chega a Natal é contada de maneira confusa pelos seus cronistas. Gomes de Melo, por exemplo, afirma que ela já trabalhava num bordel quando Madame Georgina, dona da Boate Estrela em Natal, soube de sua beleza e foi buscá-la. A estreia de Maria Boa, no Estrela, foi um grande espetáculo. Madame Georgina não poupou no vestido, nem nas jóias, nem nas músicas para apresentá-la aos seus clientes.

Nessa noite, ela conheceu um proprietário de um engenho e funcionário público, que se apaixonou por ela. Passou a sustentá-la e visitá-la semanalmente no Estrela. Meses depois, Maria engravidou. O amante quando soube que ela estava grávida, chutou-lhe o ventre, o que causou-lhe um aborto. Ela ficou muito abalada e afastou-se do Estrela, rompendo com Madame Georgina.

Porém, na década de 1940, sua visão empreendedora, percebeu que Natal não possuía um lugar em que os homens da cidade pudessem se divertir, apreciar música e teatro, beber e conversar, além de terem mulheres bonitas e elegantes. Ela resolveu então abrir um cabaré. Essa é a diferença de um cabaré para um bordel. Ele não se trata apenas da prostituição, ele é um espaço de apresentações musicais, principalmente teatro de revista, e de socialização dos rapazes da cidade. Com a chegada dos americanos, com a Segunda Guerra, Maria Boa sabia que esse público pagaria caro por esse tipo de divertimento na cidade. Ela então, em sociedade com um amigo, abriu na rua Mermoz, na Cidade Alta, o seu empreendimento.

Maria Boa exigia educação de suas garotas, inclusive, comprava livros e pagava ingressos para as meninas para o teatro e concertos, não era incomum que vê-la com suas garotas em exposições de arte. Elas eram trazidas de outras cidades e escolhidas pela sua beleza, elegância, mas também pela sua inteligência. As mulheres do cabaré de Maria Boa deviam saber entreter os homens com conversas inteligentes, inclusive para mantê-los o mais tempo possível consumindo os pratos e bebidas servidos no bar, antes deles encerrarem a noite nos quartos.

Disponível em https://www.brechando.com/2015/09/aqui-jaz-o-cabare-de-maria-boa/

O ambiente que ela criou fez sucesso. Tanto entre os potiguares, quanto entre os americanos que chegavam na cidade. Ela se tornou tão famosa que foi homenageada nos aviões que partiam da Base Áerea de Natal que saiam pintados com retratos seus. Um dos aviões também foi batizado com seu nome.

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