Genealogia dos Bairros: Barro Vermelho
Por Prof. Lenin Campos Soares
Um bairro que manteve seu nome original foi o Barro Vermelho (nome por causa de seu solo que contrasta com as brancas dunas e o escuro solo de aluvião das ribeiras). Não sem batalhas. Em 1966, o prefeito Ernani Silveira sancionou uma lei que criava o bairro Jaguarari, um segundo topônimo da região (para ser mais exato, ele nomeava a região entre o Alecrim e o próprio Barro Vermelho). Segundo Itamar de Souza foi uma ação ativa para apagar o nome antigo da região. A avenida, com mesmo nome, mantém essa história.
Cascudo anotou referências ao nome desde 1791, indicando um de seus moradores, o alferes João Antônio Barbosa. Em 1838, a região também foi palco do assassinato a tiros e facadas do presidente Parrudo, Manoel Ribeiro da Silva Lisboa. E também foi num sítio que pertencia ao Padre Meumeuzinho (Bartolomeu Fagundes de Vasconcelos) que, em 1868, um grupo de teatro realizou uma noite de Natal espetacular que chegou a nós descrita pelos jornais (Veja mais aqui). Jaguarari, no entanto, aparece somente em documentos do século XX. O nome antigo, pelo jeito, não foi esquecido pelos moradores, que continuaram chamando a região pelo nome tradicional, apesar do nome oficial.
Mesmo em 1915, quando o presidente da Intendência Municipal, Romualdo Galvão, abre a avenida Olinto Meira (calçada somente em 1966), a região era considerada rural, de chácaras e sítios, com extensas plantações de cajueiros e vacarias. Ela também era a porta de entrada de quem vinha de São José de Mipibu, a atual rua Régulo Tînôco era conhecida como Estrada São José, dado a picada aberta pelos viajantes que chegavam a pé ou a cavalo da vila mais ao sul da capital.
Em 1933 a região tornou-se oficialmente bairro, desmembrando-se de Lagoa Seca. Mas ela continua como região rural. Seu adensamento populacional só começa a acontecer a partir das décadas de 1950 e 1960. E isso aparece com a construção de escolas e abertura de novas ruas no bairro. Ruas como Prof. Clementino Câmara, Dr. Alberto Melo e Antônio Melo ampliam a rede a partir da Avenida Jaguarari e da Estrada São José (Régulo Tinôco). Das escolas, a mais antiga do bairro era o Centro Educacional Maristela (que encerrou suas atividades em 2018, veja o anúncio da superiora aqui), que nasceu Externato Santa Filomena, gerida pelas filhas de Santanna, em 1952 (em 1971, com as novas leis que geriam a educação, tornou-se Ginásio Maristela).
Na década de 1940, o Instituto Padre João Maria, dedicado a assistência de meninas órfãs, criado em 1912, mudou-se para o bairro (1944). Se instalando aonde hoje funciona o corpo de bombeiros.
“Para dar assistência à população pobre e desamparada, o governo do Estado criou o Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social (SERAS), em 1943. O então jornalista Aluízio Alves foi o primeiro diretor do SERAS. Para proporcionar melhores condições de assistência às crianças órfãs, que viviam então em pavilhões improvisados na Vila de Extremoz, o interventor federal, general Antônio Fernandes Dantas, com apoio financeiro da LBA, construiu o prédio do Instituto Padre João Maria, situado na Av. Alexandrino de Alencar” (Itamar de Souza, p.593)
Na década de 1960, o governador Aluízio Alves lançou o Plano Educação para Todos, que abriu escolas em várias regiões da cidade, o Barro Vermelho foi agraciado com a Escola Estadual Jerônimo Gueiros (em 1964). Uma segunda escola, no entanto, só vai ser erguida em 1975, sob o governo de Tarcísio Maia, a Escola Estadual Tiradentes, indicando que ainda era uma região pouco habitada.
A região também se torna casa dos bombeiros, em 1969, com a instalação do quartel na Avenida Prudente de Morais. E em 1967, vê a Casa de Saúde Natal transferir sua sede para o bairro. Pioneira no tratamento psiquiátrico, o estabelecimento fundado pelos médicos Severino Lopes da Silva, Otto Júlio Marinho e Aldo Xavier da Costa, defendia o compromisso para cuidar com seus pacientes defendendo o respeito pela pessoa, amenizando a ruptura momentânea do seu meio familiar. O prédio novo foi construído com a tecnologia mais moderna para o período, com o apoio de uma equipe interdisciplinar que envolvia psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais (na época chamados de praxiterapeuta). Em 2005, a Casa de Saúde transformou-se em Hospital Psiquiátrico Prof. Severino Lopes, em honra do seu fundador falecido dois anos antes, mantido pela Sociedade Prof. Heitor Carrilho.
É na década de 1980 que o bairro tem seu crescimento demográfico, como toda a cidade. E que temos a expansão do bairro para regiões como Cinco Bocas, um largo resultado do cruzamento de quatro ruas (Gustavo Adolfo, Ângelo Rosseli, Uruassu e Adauto Câmara). As ruas inicialmente eram fechadas, somente a Uruassu conectava-se a Alexandrino de Alencar, porém projetos de drenagem realizados em 1997, permitiram a conexão com a Régulo Tinôco, Felipe Guerra e Raul de Alencar. O projeto inclusive envolveu o encanamento de um riacho que nascia no bairro e desaguava no Potengi.
A partir da década de 2010, o bairro começou a ser descrito na mídia como bucólico, como um bairro que preservou o modo de vida provincial. Uma das características que são tomadas para reforçar este discurso é arborização do bairro. Pesquisas realizadas, como do engenheiro florestal Daniel André, demonstraram que o Barro Vermelho é a região da capital com maior quantidade de árvores, inclusive com um número considerável de pau-brasil. No entanto, segundo a Organização Mundial de Saúde, é recomendado cerca de três árvores por morador, na zona urbana, e na pesquisa de André, o bairro que tem a maior arborização da cidade tem menos de uma árvore por morador.
Para Saber Mais:
Itamar de Souza. Nova História de Natal.