Forte ou Fortaleza?
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Uma questão sempre é colocada: o nome é Forte dos Reis Magos ou Fortaleza dos Reis Magos? Na maioria dos dicionários em português estes dois nomes aparecem como sinônimos, porém, militarmente, sobretudo no que diz respeito as construções militares medievais, eles não são a mesma coisa. Primeiro, vamos conhecer um pouco a função das construções militares medievais. Sim, nosso forte ele é uma construção medieval ainda. Ou como alguns historiadores preferem tratar: uma construção de transição. Que ainda tem características medievais, mais já passa a introduzir elementos modernos. Essa arquitetura medieval se caracteriza por alguns elementos, como as cortinas entre os baluartes e a presença de torres de vigia; porém o formato em estrela (os fortes medievais eram retangulares) e as torres redondas já demonstram uma influência da nova arquitetura militar italiana.
Tanto o forte, quanto a fortaleza, quanto os castelos, tem como objetivo a proteção contra exércitos inimigos, sobretudo contra a ação de armas como o arco, a besta e a catapulta, que utilizam a torção e flexão para impulsionar um projétil; porém a partir do século XIV, um século antes da construção do Forte dos Reis Magos, com a descoberta da pólvora chinesa pelos europeus, o uso do canhão, do arcabuz, do mosquete e da pistola passam a ser comuns. A construção militar medieval se adapta a essa mudança das armas. Os fortes e fortalezas que antes primavam por paredes altas e construções verticalizadas, que impediriam que as flechas os ultrapassem, passam agora a preferir construções mais horizontais, com paredes mais grossas, e ocupando um espaço maior.
E é aqui que a diferença entre um forte e uma fortaleza se mostra mais contrastante. Um forte tem apenas uma bateria de artilharia, ou seja, ele tem apenas um espaço, incluso na construção, onde é possível combater usando os canhões, arcabuz e mosquete. A Fortaleza tem a diferença de apresentar duas baterias: uma na construção principal e outra, mas afastada dela, numa parede mais distante. Outra característica importante que distingue a fortaleza do forte é que a primeira mantém contato direto com a povoação. Suas paredes protegem não somente os soldados aquartelados, mas a própria cidade/vila/povoação. Explica o historiador Roberto Airon, em sua tese “Uma Arqueologia das Casas Fortes”, que tanto as fortalezas como os castelos funcionavam como centros administrativos e jurisdicionais, além de exercer um controle sobre as vias de comunicação e do território. Ou seja, pelas duas definições então o que temos é um forte, não uma fortaleza.