As Fortalezas do Rio Grande do Norte: Forte de Cunhaú

Por Prof. Lenin Campos Soares

Foto: Cleide Isabel (Disponível em https://www.minube.com.br/sitio-preferido/canhoes-baia-da-traicao-a3591259#gallery-modal)

Forte localizado na barra do rio Cunhaú, em Canguaretama, também conhecido como Forte de Maranhão, por causa dos Albuquerque Maranhão. Ele foi construído ainda no século XVI, por volta de 1550, por franceses de Dunquerque que usavam a região para fazer comércio com os nativos, levando especialmente o pau-brasil para a Europa. Ele foi depois ocupado por forças portuguesas, sendo a base de onde era possível proteger o engenho de Cunhaú, que pertencia a família Albuquerque Maranhão, evitando que os inimigos subissem o rio para atacar a fazenda.

Ele é descrito como uma fortificação quadrangular com muros duplos de pelo menos três metros, armada com dez peças de ferro, isto é, dez canhões, onze barris e pólvora e dois arcabuzes, e cercada por uma paliçada. Era guarnecida por um destacamento de pelo menos vinte e sete homens sob o comando do capitão Álvaro Fragoso de Albuquerque. Ela estaria localizada na encosta da Falésia do Pontal, à margem esquerda do rio, nas proximidades da atual Pousada do Forte.

Localização do Forte de Cunhaú.

Durante a invasão holandesa, o forte foi atacado em abril de 1634, uma campanha liderada por Smient resistindo bravamente. Contam os documentos que os cachorros avisaram do ataque, e mesmo sem a presença do comandante da fortificação que estava no engenho, os soldados foram capazes de conter a invasão. Contudo, em outubro do mesmo ano, um novo ataque foi organizado, sob o comando do coronel polonês Crestofle d’Artichau Arciszewski, que num ataque furtivo, a noite, atacou a fortaleza tanto pelo mar, sob liderança de Satchouwer, usando seus navios para dispararem contra a muralha, ao mesmo tempo que um destacamento terrestre, aproveitando a escuridão da noite, avançou com 228 soldados e 50 indígenas que escalaram o muro e abriram seus portões para a tomada da fortaleza. Arciszewski tomou o castelo, o capitão Fragoso perece nesta batalha, junto ao capelão da fortificação, um frade capuchinho, e mais 11 homens, 13 homens foram capturados, porém três portugueses fugiram para o engenho, e prepararam um contra-ataque. Fortificados em Cunhaú, os colonos portugueses lutaram contra os holandeses e os derrotaram novamente, resgatando o forte.

Na fuga, Arciszewski leva consigo o açúcar e o vinho, além de outras mercadorias, estocados no Forte. Porém seu navio naufragou e, na região, surgiu o mito do tesouro holandês. Conta-se que desejoso de manter seu saque, o polonês tentou levar aquilo que havia roubado consigo para a praia, mas foi perdendo cada um dos objetos, até ser jogado para fora da praia. Ele então foi condenado a viver como um fantasma até restituir o tesouro àqueles que havia roubado. Ele então oferece seu tesouro à mulheres, pois os homens não podem vê-lo, que precisam guardar segredo por três dias para receber o prêmio; contudo as jovens descuidadas sempre deixam escapar que viram um holandês e ele continua preso a sua penúria.

No mês seguinte, um novo ataque. O forte é agora comandado por Matias de Albuquerque Maranhão e o ataque é liderado por Joris Garstman, que finalmente derrotou a fortaleza e permitiu o acesso direto dos holandeses ao engenho. A diferença do ataque de Garstman e Arciszewki é que agora eles não deram tempo para os colonos portugueses organizarem as suas forças no engenho. A derrota da fortaleza foi seguida a um ataque preciso ao Engenho de Cunhaú. Matias de Albuquerque Maranhão fugiu para Portugal, abandonando a fortaleza, o engenho e os moradores.

Em 1637, o engenho de Cunhaú já pertence aos holandeses e passa a ser administrado por George Garstman. É nele, que oito anos depois, vai acontecer o que ficou conhecido como Massacre de Cunhaú, em que os colonos portugueses que ainda moravam nas terras do engenho foram assassinados por 200 soldados desertores, liderados por Jacó Rabbi, e janduís, comandados pelo Jerereca ou Jererera.

Nenhum resquício foi preservado da fortaleza, somente alguns dos seus canhões foram encontrados e hoje estão expostos para visitação pública.

Fotos: Cleide Isabel. (Disponível em https://www.minube.com.br/sitio-preferido/canhoes-baia-da-traicao-a3591259#gallery-modal)