Cine Poytheama: o primeiro cinema potiguar
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares e Karla Barbosa Freire
A tradição de ir ao cinema em Natal é bem mais antiga do que se possa imaginar. O primeiro cinema estava localizado de início na primeira rua de Natal, que na época era conhecida como rua da Alfandega, hoje rua Chile, e pertencia a uma rede de cinemas que tinha sua matriz no Rio de Janeiro. Abriu suas portas em 1911, mas logo após mudou-se para a rua ao lado da praça Augusto Severo, em 1915.
Os filmes eram trazidos para cá, mas havia uma demora devido a dificuldade de locomoção da época, no entanto, o cinema resistiu e continuou a abrir seções com produções norte americanas.
Dessa forma, quando mudou-se para o largo da praça ganhou um ambiente mais ventilado, tendo em vista do novo prédio ser maior, e também a brisa que vinha graças às árvores da praça. Quando houve a mudança de localização o Polytheama também veio a ganhar um ambiente um tanto requintado, dizem Cristiane e Rosângela Aragão:
“o Polytheama, um dos primeiros cinemas da cidade, oferecia em sua estrutura além da sala de projeção, salas de jogos, serviço de bar, sorveteria e palco para apresentações teatrais”
O que seria ideal para receber os clientes que faziam de idas ao cinema um desfile infindável de roupas elegantes. Mulheres com seus vestidos lembrando a moda parisiense que era tão forte naquela época e homens com seus ternos perfeitamente engomadas, terno e gravata eram o traje ideal para as tardes de sábado e domingo (mesmo com o calor escaldante do nosso país) onde as sessões tinham um público maior, Mas também tínhamos seções durante a semana, às quartas feiras, por exemplo, Obviamente o público do cinema era muito seleto, composto pela elite natalense, que podia pagar pelo ingresso e pelas comodidades modernas, como o sorvete.
O Cine Polytheama é o grande responsável por instituir um das nossas mais antigas tradições, afinal quem nunca tomou um ‘’ poly’’ aqui em Natal? Essa expressão conhecida apenas por aqui, tem uma origem bastante curiosa e pouco conhecida pela maioria da população. Quando o cinema teve a sua mudança de localização, foram construídas sorveterias dentro do prédio, para a maior satisfação dos clientes, um pequeno café em que os clientes chamavam os sorvetes e picolés que eram servidos em taças de ‘’poly’’, e assim sempre que alguém questionava ‘’vamos tomar um poly?’’, já sabia que era um convite também para ir ao cinema.
Porém, com o passar do tempo, e todas as mudanças sociais e urbanas da nossa cidade, que transferiram para a Cidade Alta e para o Alecrim os centros comerciais da cidade, retirando a importância econômica da Ribeira, o cinema foi perdendo sua clientela. Outros cinemas começaram a surgir tanto na Cidade Alta como no Alecrim. É a partir da década de 1940 que a liderança do Polytheama passa a ser questionada:
“Com o crescimento da cidade durante a década de 1940, o cinema se torna bastante popular na sociedade e, ao lado dos programas de auditórios das rádios constituíam a principal forma de diversão da maioria dos natalenses. Seu público era bastante diversificado, abrangendo todas as classes sociais, que procuravam na tela do cinema uma forma de distração. Ir ao cinema passou a ser um acontecimento social servindo como ponto de encontro para os jovens da época”. (Cristiane e Rosângela Aragão).
O Cinema São Luiz no Alecrim com suas matinês infantis, e o Cinema Rex com sua Sessão de Moças, mas isso é assunto para uma próxima postagem.