Alecrim: O Cemitério (Parte 4 - Os Simbolismo)
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Como todo fenômeno humano, a Morte tem sua história. E essa história começou a ser percebida a partir de 1960 com a chamada Nova História. Uma escola de historiadores que começou a ensinar que todos os aspectos da cultura humana tinham um passado e tendo esse passado era possível que o historiador se debruçasse sobre ela. Foi a partir das pesquisas desses historiadores que temas como gênero e sexualidade, que propaganda política e discurso, que o cotidiano e a morte foram eleitos como temas que um historiador pudesse escolher. A Morte passa a ser vista como uma condição fundante do homem, já que essa consciência de sua mortalidade desencadeia uma série de reflexões sobre a sua existência, como diz Edgar Morin, e gera práticas específicas como rituais (o funeral, os rituais religiosos), o luto e diversas representações impregnadas de emoções que emergem do enfrentamento da morte, como diz Gênison Medeiros
Em relação a morte, um aspecto que se tornou rapidamente popular foi o cruzamento entre a História da Arte e a Morte, a chamada Arte Funerária ou Fúnebre. E, nesse novo ramo da ciência história, vários temas começaram a ser pesquisados e um deles é as representações utilizadas nos cemitérios, isto é, que símbolos aparecem nas lápides e túmulos e que significados estes possuem no tempo, o que Gênison Medeiros chama de Poética da Morte. A partir destes símbolos que a nossa sociedade descreve sua relação com a morte na própria materialidade do cemitério, nas paredes dos túmulos, na decoração de suas aléias,
A Cruz
A cruz é o símbolo mais comum nos Cemitérios, para muitas pessoas ela significa morte, porém essa não é a verdade. A cruz, no Cristianismo, é símbolo da superação da morte. Jesus ao ser crucificado ressuscita no terceiro dia, portanto, o símbolo aparece nos túmulos contando que aqueles que descansam ali também tenha a chance de superar a morte e alcançar a vida eterna.
O Livro
Outro símbolo comum, também de origem cristã, é a presença de livros. Abertos sobre os túmulos, com frases ou descrevendo quem são aqueles que estão enterrados no túmulo. O símbolo significa tanto a própria Bíblia, como também o livro da História, porém uma que é sagrada.
O Anjo
Este, normalmente com a mão direita apontando para cima, e a esquerda para baixo. Este anjo significa o abandono da matéria, o direcionamento para o divino. Ele olha com misericórdia para o tumulo e estende sua mão para ele, o abençoando.
O Querubim
Estes são uma classe de anjos que são normalmente representadas como crianças que acompanham, especialmente, as representações de Nossa Senhora. Eles representam para o cristianismo o cumprimento de uma missão. Que aquela pessoa teria já cumprido o que deveria fazer na Terra e agora retornava para um lugar especial junto ao Criador, já que os querubins são a segunda classe de anjos mais próxima a Deus.
Carpideiras
Estas são as imagens em que vemos estátuas de homens, mulheres ou crianças que choram ou que rezam por aqueles que estão mortos no túmulo.
Os Devotos
Uma outra tradição católica são os santos, os quais os fiéis tem devoção especial. Muitos pedem intercessão a estes santos em sua vida e na sua morte. Para isso, colocam estas imagens em seus túmulos.
Mausoléu
É interessante que os símbolos não são somente cristãos. Um deles é o próprio mausoléu. O mais famoso foi o Mausoléu de Halicarnasso, construído entre 353 e 350 a.C, pelo sátrapa aquemênida Mausolo, para servir como seu túmulo e para sua esposa, Artemísia. Os túmulos com esse formato fazem referência a riqueza deste que ficou conhecido como uma das sete maravilhas do mundo, mesmo durante a época em que foi construído.
Hermes
Um símbolo comum nos cemitérios ocidentais é o deus Hermes. Este deus grego era o senhor da comunicação e dos comércios, protetor dos caminhos, era reverenciado nas encruzilhadas e também guiava os mortos. Ele acompanhava os espíritos até a entrada do reino dos mortos.
Hera
Outro símbolo não cristão que aparece nos cemitérios é a deusa Hera. Deusa grega do casamento, protetora das mulheres, da maternidade e das crianças. Ela representa, nos cemitérios, a boa esposa. É uma indicação, um elogio feito aquela que ocupa o túmulo.