Casa do Estudante
Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares
Existente hoje no Largo da Junqueira, a Casa do Estudante foi construída em 1856 como o Hospital da Caridade para uma epidemia de cólera, como nos informa Itamar de Souza em seu Nova História de Natal, função que manteve até a criação do Hospital Juvino Barreto em 1910. Quando Hospital de Caridade, ele atendia indigentes, doentes pobres e presos de justiça. Era muito mais um abrigo do que um hospital, pois os doentes eram apenas deixados lá para não ficarem perambulando pela cidade, sem receber qualquer tipo de atendimento. Para o período este foi um grande avanço, pois até meados do século XIX, Natal não dispunha de qualquer tipo de edificação destinada ao abrigo de doentes. Porém com essa epidemia de cólera se alastramento pela cidade, o governo precisava afastá-los de alguma maneira, mesmo que fosse apenas para observá-los morrer.
Até 1914 o prédio também abrigou a Escola de Aprendizes Artífices, embrião da futura Escola Técnica, quando a escola migrou para o prédio na Rio Branco. De 1914 até 1953 funcionou aí o quartel da Polícia Militar, sendo inclusive fortemente bombardeado durante a Insurreição Comunista de 1935. A mudança ocorreu com a construção do quartel na av. Rodrigues Alves. A partir de 1956, o governador Sylvio Pedroza fundou a Casa do Estudante, onde durante o regime militar funcionava a base de resistência a ditadura, sendo ela várias vezes invadida por polícias da Delegacia de Ordem Pública e Social.
Seu símbolo de resistência a ditadura tornou-o o espaço ideal para em 2019 o governo do Estado rebatizar o prédio com o nome de um dos seus presidentes, Emanuel Bezerra dos Santos, que fora assassinado pelos militares em 1973, e tornar o prédio sede da Secretária das Mulheres, da Juventude, da Igualdade Racial e de Direitos Humanos. Um memorial da juventude também foi prometido pelo governo estadual.
Obviamente a construção que está de pé hoje não é a mesma que foi levantada em 1856. Hoje, diferente da Prefeitura de Natal, esta é uma casa que representa modestamente o ecletismo arquitetônico, bem como todo Largo da Junqueira Aires. Porém, ela abusa do uso de uma decoração inspirada no Art Déco, mostrando que sua fachada foi reformada por volta das décadas de 1920 e 1930. Uma curiosidade: geralmente estas casas possuíam um porão elevado, o que permitia uma maior intimidade dos residentes contra a curiosidade dos passantes, pois suas janelas acabam ficando fora da vista daqueles que passam caminhando pelas calçadas.
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