Natal das Antigas

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Casa da Viúva Machado

Foto do site tokdehistória.com.br

Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares

Foi construída em 1910 por Jorge Maranhão, irmão de Alberto Maranhão, usando os melhores materiais de construção, até mesmo obras de arte europeias. Em estilo Art Decó, tem como suas principais características as falsas colunas e a falsa varanda. Este prédio, especificamente, utiliza bandeiras tanto em forma de arcos quanto quadradas. Em 1920 foi vendida a Manuel Machado, comerciante português que veio a falecer em 1934. A Casa Machado era uma das principais lojas da cidade, tornando seu dono o homem mais rico de Natal nos princípios do século XX. Lá vendia-se gêneros alimentícios como farinha de trigo e de mandioca, açúcar e sal, além de verduras, frutas e conservas. Na loja também era possível encontrar bebidas nacionais, como a cachaça, mas também importadas como o vinho português. Ele também importava material de construção como madeira, inclusive cedro (trazido da Ásia).

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Sua fortuna, baseada no comércio, foi herdada por sua esposa, a natalense Amélia Duarte Machado, que ficara conhecida na sociedade natalense como Viúva Machado após a morte do marido. Explica Rostand Medeiros que com o falecimento do Sr. Machado, a jovem senhora se fechou em seu palacete, vivendo discretamente sua viuvez.

“Consta que ela recebia poucas visitas, saía pouco de casa (até porque tinha uma igreja na porta) e ainda sofria de uma estranha doença, onde se comentavam que suas orelhas eram muito grandes” (MEDEIROS, R.).

Mas a sociedade natalense não a perdoou. Acusaram-na de ter feito um “pacto com o cão” para ficar rica e agora não podia sair de casa porque o tinhoso viera cobrar, roubando-lhe a beleza e deixando-lhe deformada. Explica Rostand Medeiros que ela possuía uma doença que fazia com que suas orelhas continuassem crescendo.

Outra maldade: seu casamento não gerara filhos. A senhora Machado, no entanto, adorava crianças e se cercava com os filhos dos poucos amigos e dos parentes, convidando-os para a sua casa e servindo-lhes bolos e doces. Não demorou muito para que se espalhasse um novo boato: a viúva comia o fígado das crianças para permanecer viva. Ela chegou a ser agredida verbalmente numa das poucas vezes que saía de casa. Gritaram-lhe: “Lá vem a papa-figo!”. Ela ficou profundamente magoada, o que não impediu que sua imagem passasse a fazer parte do folclore da cidade, fazendo parte das ameaças das mães as crianças desobedientes (se você não comer todo, vou te dar pra Viúva Machado pr’ela comer seu figo!). Amélia se isolou ainda mais, tornando-se ainda mais reclusa, até sua morte em 1981.