História da Arte Potiguar: Art Decó

Por Dr. Lenin Campos Soares e

Prof. Matheus Barbosa

Art Decó tem uma origem é francesa, sendo o primeiro estilo artístico precisamente moderno. Seu nome advém da expressão francesa Art et Décoration, e que entendia a arquitetura como um suporte ou cenário para a exposição da arte, que seria expressa com esculturas na fachada (feitas com o próprio reboco), com aplicações de metal, com quadros, vidraças e, principalmente, com o mobiliário. Para alguns historiadores, como afirma Günter Weimer, ele inclusive deveria ser considerado como uma retorno ao ecletismo, já que novamente elementos decorativos que podem ser considerados díspares, relacionados a temporalidades diferentes, podiam ser absorvidos na construção.

Suas principais características envolvem um grande volume de formas geométricas variadas, tais como prismas retangulares, cilindros e volumes planos, horizontais e verticais, estes eram utilizados sempre na busca de simetria, com objetivos apenas decorativos, sem finalidade prática na construção. Um elemento histórico que era comum ao estilo são elementos da arquitetura clássica como, por exemplo, o uso abundante de colunas, (algumas reais, muitas vezes somente decorativas), podendo variar os materiais utilizados (mármore, bronze, concreto, prata, etc.).

O estilo artístico Art Decó chega ao Brasil no fim da década de 1920, e foi ganhado popularidade na arquitetura brasileira entre as décadas de 1930 e 1950. Ele é o estilo com que as construções do Estado Novo são realizadas e é se posicionando contra o Art Decó que o Modernismo de arquitetos como Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Roberto Burle Marx vai nascer. No Rio Grande do Norte, este período de 1930 a 1950 é um momento de grande expansão na cidade, em especial durante os anos de 1942 a 1945, com a presença americana na cidade. É por isso que é neste estilo que encontramos o maior número de construções em nossa cidade, e espalhados nos mais diversos bairros. Ribeira, Rocas, Cidade Alta, Petrópolis e Tirol, Alecrim, Quintas, Dix-Sept Rosado, Nossa Senhora de Nazaré, Cidade da Esperança e Lagoa Nova, ainda conservam preciosidades Art Decó entre suas casas e prédios mais antigos.

Na Ribeira, um dos monumentos Art Decó mais importantes do Rio Grande do Norte é o Grande Hotel. A construção iniciada em 1935 e terminada quatro anos depois foi financiada pelo governo do Estado, e depois de pronta arrendada para Theodorico Bezerra (que na época era dono de mais cinco pequenos hotéis na cidade, todos localizados na Ribeira). A fachada curva, com inúmeras janelas, decorada por um pórtico octogonal no centro e dois volumes que se projetam nas laterais do prédio, sustentado por colunas de alvenaria. O pavimento térreo abrigava um grande hall com café, bar, lojas e barbeiro, que podiam ser frequentados tanto pelos hóspedes como os moradores. Isto foi uma imensa novidade para a vida social da cidade. No primeiro andar, tínhamos 24 quartos comuns (nos quais eram alugadas as camas, como os albergues funcionam hoje em dia), que dividiam quatro banheiros, e 10 quartos privativos (em que as pessoas ficavam sozinhas), em anexo haviam banheiros, refeitório e dormitório para os funcionários. No segundo e terceiro andar temos 27 quartos comuns e mais 10 quartos privativos. O Grande Hotel continuou como o maior empreendimento hoteleiro da cidade até a construção do Hotel Reis Magos, em 1965, na Praia dos Artistas, por incentivo do governador Aluísio Alves.

Albergue Cidade do Sol

Albergue Cidade do Sol

Outro prédio marcante na Av. Duque de Caxias, na Ribeira, é o Albergue Cidade do Sol. Suas varandas semicirculares com cinco janelas, coroada com bandeirolas esculpidas em baixo relevo, decoradas com linhas horizontais no balcão e com falsas cornijas nas colunas é típico do estilo. A fachada principal ainda tem esculturas em baixo relevo de folhagens estilizadas (típico do período) entre as janelas do terceiro andar. A fachada leste repete um motivo com flores em uma faixa. Um frontão composto somente com volutas e elementos geométricos coroa o prédio. Ao lado do albergue temos o prédio do Ateliê Flávio Freitas e nesta construção o problema da diferenciação entre o Eclético e o Art Decó se tornam bem claras. Um elemento Déco é o canto curvo do prédio, no qual se apoia a varanda. A fachada tem um frontão que faz referência ao estilo colonial, ladeado por duas colunas que provavelmente apoiaram em algum momento de sua história um pináculo ou talvez um cálice. Abaixo da única janela, um faixa de arcos, esculpido com argamassa, decoram a fachada até a laje que serve de marquise. No mesmo quarteirão, o prédio de número 170 também merece um olhar mais detalhado. O prédio tem três andares, e as suas varandas, no segundo e terceiro piso, de forma arredondada, que complementa mais dois volumes arredondados, como ondas, que aparecem de forma simétrica dos dois lados do prédio também tem traços Decó. As linhas simples, mas com movimento graças aos volumes, é um elemento que inclusive será reapropriado pelos modernistas.

ITEP

ITEP

Ainda na Duque de Caxias, uma pequena construção, de número 113, também apresenta características deste pré-modernismo. A fachada é dividida em duas partes pela coluna que divide a porta de entrada e a porta da loja, quebrando ligeiramente a simetria. Esta coluna se ergue até o segundo andar, saindo do frontão em três volumes retangulares, um elemento decorativo bem tradicional na Art Decó. A fachada ainda é complementada por quadrados em baixo relevo, esculpidos com o reboco da fachada. Tijolos falsos também são representados nas colunas falsas. Outro prédio de grande relevância para a História da Arte no nosso estado é a sede do ITEP. O prédio que tem sua entrada principal pela esquina da rua, criando uma fachada em três lados, tem a porta principal ladeada por duas colunas falsas que se erguem para cima do frontão. A decoração das colunas novamente brinca com os volumes. A fachada lateral que dá para a Av. Duque de Caxias repete as colunas que ladeiam uma porta, enquanto a direita e a esquerda das colunas varandas dão para as janelas do primeiro andar. Outro prédio importante neste trecho da avenida é o de número 124. Ele possuí uma fachada que será bem comum nos prédios Art Nouveau da cidade. Uma entrada pela esquina com uma escadaria e colunas (no caso aqui circulares), mas no prédio da Tribuna do Norte, são octogonais, que sustentam a marquise do prédio. O prédio aqui mantem uma linha curva na esquina, no ITEP a fachada é angulada. No primeiro andar no número 124, janelas pequenas com basculantes não competem com as linhas horizontais, esculpidas em alto relevo, que cruzam toda a fachada do prédio. Nas laterais, tanto a fachada que dá para a Duque de Caixas, como a fachada que dá para a Rua Ferreira Chaves, ostentam uma grande escultura em baixo relevo, que começa num falso frontão e desce até a marquise. No prédio da Tribuna do Norte ainda podemos ver uma falsa cornija que decora toda a fachada.

Tribuna do Norte

Tribuna do Norte

Outro prédio que merece destaque na Av. Duque de Caxias é o Edifício Varela, cuja fachada do segundo e terceiro andar ainda mantém as suas características originais. Infelizmente o prédio está em processo de degradação e pode ser perdido se algo não for feito para seu restauro. A fachada possui uma cornija horizontal e um belo e longo frontão que brinca com formas geométricas. Este é mais um exemplo de como o Art Decó e o Eclético são estilos extremamente cambiáveis. Nesta parte da Avenida ainda podemos falar sobre o Bando do Brasil - Agência Ribeira, que apesar das intervenções modernistas que sofreu em sua fachada, manteve no térreo as colunas falsas que sustentavam sua marquise.

Na Ribeira, ainda, econtramos na Rua Chile 15 prédios (de 83), na Rua Dr. Barata quatro prédios (de 67) e na Rua Frei Miguelinho, oito prédios (de 67).

Nas Rocas nós temos a antiga Estação de Trem Natal foi construída em 1917, localizada na Esplanda Silva Jardim, no bairro das Rocas. Juntamente com ela, foram inauguradas as oficinas localizadas ao lado do prédio administrativo da E.F.C.R.N. Hoje no prédio funciona do Departamento de Obras contra a Seca (DNOCS).

DNOCS

DNOCS

Mais um prédio Art Decó da capital é o atual Centro de Turismo, em Petrópolis. Neste local havia a casa de veraneio de Pio Barreto, como era moda na década de 1890. Diz Cascudo que várias casas apareciam em cima das dunas, “residências tão longe da cidade que a travessia era feita a cavalo e muita gente não encontrava razão naquelas simpatias por uma vida no mato”. A partir de 1912 foi ampliada e abrigou o Asilo de Mendicidade P. João Maria; a partir de 1920 até 1943, deu lugar ao orfanato infantil feminino, e entre 1945 a 1969 tornou-se Casa de Detenção de Natal. Em 1976, o prédio foi restaurado e passou a integrar o patrimônio da Emprotur, a empresa de fomento ao turismo no Rio Grande do Norte, tornando-se um centro de turismo no qual as celas são usadas para a exposição do trabalho de artesãos e o pátio interno serve de espaço para shows de dança. O prédio tem duas fachadas imponentes, uma externa, que apela mais para elementos neoclássicos, que provavelmente remonta a primeira construção do prédio, e uma interna (que dá para o pátio), que é muito mais Art Decó . A fachada externa, no entanto, foi claramente remodelada, segue a horizontalidade neoclássica com as janelas mantendo a simetria; porém, no centro, o frontão é de gosto moderno. As linhas curvas e a decoração esculpida com a argamassa, em formato de fitas, demonstram a referência ao modernismo. A fachada interna mantém elementos ecléticos também com a decoração de todo o primeiro andar e a balaustrada que coroa o edifício. Porém a decoração de todo o primeiro andar é novamente Art Decó.

Fora de Natal, também encontramos inúmeras construções como o Grupo Escolar Senador Guerra, em Caicó, que começou a funcionar em 1909, mas somente em 1925 o prédio próprio foi inaugurado pelo governador José Augusto e o prefeito José Damasceno. A fachada tem elementos Art Nouveau e Decó, sendo um bom exemplo de um momento de transição.

Grupo Escolar Senador Guerra

Grupo Escolar Senador Guerra